Ônibus

Toda vez que pego um ônibus para o Retiro ou qualquer outro terminal, me sinto como um estudante novamente, com medo de perdê-lo ou de me venderem o assento de outra pessoa. Aquelas discussões terríveis que costumavam acontecer entre os passageiros nos horários de overbooking, que às vezes atrasavam o ônibus no ponto porque ninguém queria ceder seu assento. Agora não servem mais aquele café com xarope ou aquele suco de laranja espesso e psicodélico. Nem servem os sanduíches secos e quebradiços com as pontas enroladas, nem os alfajores com um leve toque de doce de leite no meio. Não servem mais nada. Nem filmes passam.
Lembro-me de quando os primeiros serviços com comissária de bordo, jantar quente e cortinas separando um passageiro do outro eram uma sensação. Um luxo que estudantes como eu não podiam se dar. Lembro-me também dos tempos de cólera, com os banheiros fechados, bexigas prestes a estourar na próxima parada. E das passageiras que sentavam ao lado do motorista, na cabine, e lhe davam chimarrão e conversavam por quilômetros e quilômetros. O riso daquelas mulheres enchia os corredores, aquela luz azul como o sono dos passageiros, mal perfurada por suas risadas e pelos roncos de algum sujeito desconsiderado. Eu sempre me perguntava sobre o que elas estavam falando, que coisa engraçada os motoristas tinham a dizer. Certa vez, eles também me convidaram para ser a pessoa a preparar o chimarrão para eles. Recusei, escandalizada, como se tivessem proposto uma brincadeira. Naquela época, eu era uma garota séria e um tanto amargurada. Na frente, as pessoas também fumavam, e quando a conversa acabou, começou a tocar música alta. Os passageiros mais velhos, que antes estavam com o pescoço enfiado nos assentos e sibilando, simplesmente se levantaram e caminharam rapidamente pelo corredor até a cabine para restaurar a ordem. As atrevidas garçonetes retornaram aos seus assentos com a cabeça erguida, balançando os quadris e olhando ao redor em busca da cumplicidade dos passageiros mais jovens.
Agora, em vez do riso alegre das éguas, a única coisa que ressoa no microfone são conversas de celular ou, na verdade, áudios de WhatsApp indo e voltando. A vantagem para fofoqueiros como eu é que podemos ouvir os dois lados da conversa. Um homem mais velho — não o vejo, mas imagino pela voz — brinca com um amigo, aquele que o levou ao terminal e está voltando para casa. O viajante lhe diz que chegará ao seu destino às 3h da manhã (um sacrifício chegar naquele horário!), embora o cassino ainda esteja aberto. Então ele grava uma certa María. Mais uma vez, ele fala sobre o sacrifício de chegar de madrugada a uma cidade que não é a sua. Imagino que ele vá preencher alguma papelada, talvez a venda de um terreno, porque ele diz que está fazendo o sacrifício por ela, por você. Talvez a cidade já tenha sido dele, quando ele era jovem e antes de migrar para a capital. Talvez ele tenha sido seduzido pelo sonho provinciano de passar a velhice em sua terra natal e, num golpe de sorte, tenha comprado aquele pedacinho de terra. Mas quarenta ou cinquenta anos depois, aquele homem não pertence mais ali; aquele lugar não é mais aquele de onde ele o viu partir.
O homem desce antes de mim. Só então o vejo; ele mal consegue andar. Ele carrega uma pequena bolsa no ombro (segundo o que disse ao telefone, ficaria apenas um ou dois dias). Da janela, observo-o se esforçar para chegar ao banheiro do terminal. O ônibus demora um pouco para descarregar as malas, então também o vejo sair. Ele fica parado na plataforma, olhando de um lado para o outro, para o amanhecer frio de uma cidade estranha.
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