Depois de rejeitar o referendo, o presidente Gustavo Petro agora promove a votação para a assembleia constituinte: O que ele busca?

O presidente Gustavo Petro manteve sua promessa de revogar o "decreto" quando a reforma trabalhista fosse aprovada. No entanto, não desistiu de sua intenção de iniciar um processo de assembleia constituinte, ameaça que usou caso o projeto fosse rejeitado e a convocação para votação fosse impedida. Após anunciar o fim do controverso decreto, ele também propôs uma votação para iniciar um processo constitucional.
"Por isso, será emitida uma cédula para convocar a Assembleia Nacional Constituinte nas próximas eleições. Aguardo a decisão de milhões para que o próximo governo e o Congresso tenham o mandato imperativo de construir um estado social de direito, justiça social, democracia profunda com o povo e paz", tuitou o presidente.

O presidente Gustavo Petro durante a reunião de gabinete na terça-feira, 17 de junho. Foto: Presidência
A proposta teve diversas interpretações. No âmbito jurídico, o Presidente foi lembrado de que o mecanismo proposto não faz sentido, visto que a Constituição é clara sobre como uma assembleia deve ser convocada para reformá-la. "O procedimento para a reforma constitucional está claramente estabelecido na Constituição e, até o momento, nenhuma medida foi tomada nesse sentido. Portanto, qualquer outro procedimento inexistente para tal é estranho", disse o advogado constitucionalista Juan Carlos Ospina.
O procedimento em questão exige que a Câmara e o Senado aprovem um projeto de lei que permita aos cidadãos votarem se desejam ou não uma assembleia constituinte. Esse projeto de lei deve ser aprovado por maioria especial, e o texto deve indicar claramente o número de membros da assembleia constituinte, o sistema eleitoral, os temas a serem discutidos e as datas de início e término. O Tribunal Constitucional deve então analisar a lei e, se aprovada, a convocação para as urnas deve ocorrer dentro de um prazo de dois a seis meses. Para que uma assembleia se inicie, um terço do eleitorado deve votar "sim", o equivalente a quase 13 milhões de votos.
O ex-presidente do Tribunal Constitucional, Alfredo Beltrán, também se referiu a essa opção, lembrando que existem três maneiras de mudar a Constituição, nenhuma das quais é a proposta pelo presidente. O ex-deputado constituinte Gustavo Zafra também se pronunciou nesse sentido, pedindo ao presidente que continue o caminho de respeito às instituições que demonstrou ao acatar a decisão do Conselho de Estado de suspender o decreto.

Presidente Gustavo Petro. Foto: Infopresidencia - Redes Sociais
Especificamente, aqueles que participaram da elaboração da Constituição de 1991 indicaram que o que o presidente está tentando fazer é replicar o que foi feito com o sétimo escrutínio; até o Ministro do Interior, Armando Benedetti, o chamou de oitavo escrutínio, mas que neste caso não há necessidade porque já existem mecanismos para reformar a Constituição de 1991, e a trava que impedia modificações na Constituição de 1886 não existe.
"É um processo completamente inadequado e inconstitucional. Quando os estudantes propuseram o mecanismo do sétimo escrutínio em 1990, em resposta aos assassinatos de vários candidatos presidenciais e à violência reinante, a Constituição não permitiu a convocação de uma assembleia constituinte para reformar a Carta Magna, uma vez que, segundo as votações massivas no plebiscito de 1957, somente o Congresso poderia reformá-la", disse a ex-constituinte María Teresa Garcés.
Garcés, que participou da elaboração da atual Constituição, e Beltrán, ex-presidente do Tribunal Constitucional, concordaram que o mecanismo é inviável. Na época, estudantes universitários propuseram a introdução de uma sétima cédula, mas ela só foi contabilizada porque o presidente Virgilio Barco usou o estado de sítio para emitir um decreto ordenando seu registro. Atualmente, os estados de emergência não têm esse alcance. "A discussão ocorreu com um decreto de estado de sítio; não havia um controle efetivo e drástico. Agora, não existe tal mecanismo porque há uma regulamentação clara", explicou o ex-juiz Beltrán.

Alunos da sétima votação. Foto: Arquivo
Dessa forma, eles poderiam incluir quaisquer cédulas que fossem necessárias e não fossem contabilizadas por não haver lei ou mandato que exija que o Registro as leve em consideração. Além disso, como o mecanismo para invocar a Constituição já existe, é improvável que uma lei que exija sua contabilização possa ser aprovada.
Um movimento eleitoral Vários setores concordam que esta seria uma medida política, e até o próprio Ministro do Interior, Armando Benedetti, reconheceu: "Não cabe ao governo Petro, mas sim expressar a voz do povo e o descontentamento existente. Assim, o próximo governo teria o mandato de buscar uma Assembleia Constituinte. O objetivo é que o povo expresse o descontentamento existente na sociedade colombiana, que deve se refletir em um novo tratado social chamado Constituição."
Yann Basset, professor da Universidade del Rosario, levantou a questão em relação às eleições de 2026. "Ele está tentando mudar os termos das eleições de 2026. Não se trata do equilíbrio de sua administração, mas sim da Assembleia Constituinte. É uma distração, uma estratégia para mudar de assunto e favorecer suas inclinações políticas", observou.
O professor Juan Federico Pino, da CLACSO Equador, adotou posição semelhante. Ele observou que a proposta tem como objetivo 2026: "É uma estratégia para encontrar uma facção rival e conseguir polarizar". Ele acrescentou que o Petro buscaria um confronto direto com a direita para eliminar qualquer possibilidade de o centro se posicionar como uma alternativa entre os dois setores.

Armando Benedetti, Ministro do Interior Foto: Ministério do Interior
Por outro lado, especialistas apontaram que uma assembleia constituinte, como a proposta pelo presidente, não pode nascer de uma iniciativa puramente presidencial, como o próprio presidente afirmou em seu tuíte: "A assembleia constituinte já foi convocada pela presidência. Acredito que a convocação é necessária; a participação do povo é necessária para mudar a Colômbia."
Ao falar do "oitavo escrutínio", o governo Petro tenta relembrar o processo constituinte de 1991 e o "Sétimo escrutínio". No entanto, o presidente esquece que este foi um movimento que surgiu da própria sociedade civil e foi convocado por múltiplos setores. Em vez disso, trata-se de uma iniciativa exclusiva do partido Petrista e não teve eco em outros campos.
“A sociedade se organizou (mesmo ignorando as disposições constitucionais da época, mas com a autoridade legal conferida pelos poderes executivo e judiciário) em um ato de comunhão. Uma assembleia constituinte neste momento só levaria a maiores níveis de polarização e divisão social. O pior inimigo hoje é a divisão, a polarização e a radicalização”, acrescentou Gabriel Cifuentes, analista e colunista deste jornal, sobre o tema.

O presidente Gustavo Petro em seu comício em Cali. Foto: Presidência
Na mesma linha, este governo demonstrou que iniciativas populares muitas vezes não recebem a mesma resposta quando convocadas por aqueles que estão no poder e não por processos sociais. Basta lembrar as muitas mobilizações que não tiveram a participação esperada, e isso porque marchar como membro da oposição não é a mesma coisa que marchar como membro do governo.
Por outro lado, há setores que acreditam que o presidente Gustavo Petro está pavimentando seu caminho político após deixar o cargo. "A Assembleia Constituinte é o plano do presidente para quando ele se tornar presidente. Seu objetivo é derrubar a Constituição de 1991 e construir a que ele deseja. Ele está preparando o terreno para seu plano. Isso não é viável agora", disse a senadora Angélica Lozano ao EL TIEMPO há alguns dias.

O atentado contra Miguel Uribe poderia ter motivações políticas? Foto:
Juan Sebastián Lombo Delgado
eltiempo