A reação de Trump ao protesto das vítimas de Epstein é bastante reveladora

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Há uma ironia notável pairando sobre uma das maiores histórias da política atualmente: enquanto as mulheres vítimas do traficante sexual Jeffrey Epstein se reuniram no Capitólio esta semana para exigir a divulgação dos arquivos relacionados ao caso e total transparência por parte dos vários agentes da lei que o processaram, os debates políticos sobre o assunto ainda estão sendo conduzidos principalmente por homens.

Alguns desses homens estão usando o caso como alavanca para demonstrar a hipocrisia de seus oponentes. Outros estão tentando evitá-lo, na tentativa de proteger outros homens mais poderosos. Alguns estão rompendo com as fileiras do partido, aparentemente tão assustados com sua base lunática quanto com seu líder lunático. Mas tudo isso é um espetáculo revelador: mulheres obstinadas, determinadas a contar ao mundo a verdade sobre um predador em série, cercadas por homens exploradores que usam as histórias dessas mulheres para seus próprios propósitos políticos.

Mais deprimente ainda é que os homens na vanguarda da iniciativa para divulgar os arquivos de Epstein são, neste contexto, os mocinhos. Eles enfrentam um grupo de homens ainda mais ambiciosos politicamente, exploradores e covardes, que são hipócritas, além de tudo: aqueles que alardearam os arquivos de Epstein quando isso ajudou suas campanhas e agora estão tentando enterrar a história porque Donald Trump não quer que ela seja contada.

Para seu enorme crédito, muitas das mulheres que dizem que Epstein abusou delas se recusam a ser intimidadas ao silêncio. Quase uma dúzia delas foram ao Capitólio dos EUA na quarta-feira, insistindo em contar suas histórias e exigindo que os documentos de Epstein — que o governo Trump prometeu há muito tempo divulgar — fossem divulgados na íntegra. Enquanto as mulheres se reuniam, Trump fez seus próprios comentários na Casa Branca. Todo o caso Epstein, ele disse , era uma "farsa democrática", uma maneira de desviar a atenção de quão incrível seu tempo no cargo foi. "O que eles estão tentando fazer com a farsa de Epstein é fazer as pessoas falarem sobre isso", disse ele. "Estamos tendo os oito meses mais bem-sucedidos de qualquer presidente, e é sobre isso que eu quero falar."

As mulheres lá fora não acreditaram.

“Convido-os cordialmente ao Capitólio para me conhecerem pessoalmente, para que entendam que isso não é uma farsa”, disse Haley Robson em resposta. “Somos seres humanos de verdade. Isso é um trauma de verdade.”

O deputado democrata Ro Khanna, da Califórnia, e o deputado republicano Thomas Massie, do Kentucky, coautorizaram um projeto de lei, chamado de petição de quitação, exigindo que o Departamento de Justiça divulgue todas as informações que tiver sobre a investigação de Epstein, com algumas redações para garantir a privacidade das vítimas. Dado que a divulgação dos arquivos de Epstein foi um enorme grito de guerra entre os apoiadores de Trump durante sua eleição, seria de se imaginar que tanto os republicanos quanto o presidente estariam a bordo. O presidente, porém, não quer que os arquivos sejam divulgados. E no Partido Republicano de hoje — que se assemelha mais a um culto fascista à personalidade do que a um partido em uma democracia — o que quer que o presidente queira, os republicanos de base conseguem para ele.

A maioria, pelo menos. Um pequeno número de republicanos está rompendo com a lei, incluindo Massie. Apenas três outros copatrocinaram o projeto de lei Epstein e estão entre os membros mais famosos e menos respeitáveis ​​do Partido Republicano — embora sejam, notavelmente, todas mulheres: a conspiracionista e fugidia da realidade, a deputada Marjorie Taylor Greene, da Geórgia; a controversa e armada deputada Lauren Boebert, do Colorado; e a patologicamente narcisista e interesseira deputada Nancy Mace, da Carolina do Sul. A deputada Anna Paulina Luna, da Flórida, indicou que ficaria " feliz " em assinar a petição de absolvição se chegar a esse ponto, mas parece convencida, contra todas as evidências, de que Trump divulgará os arquivos de Epstein em breve. Os republicanos que se opõem — Trump, o presidente da Câmara, Mike Johnson — são os homens mais proeminentes do partido. E parecem prontos para vencer este confronto em particular.

As três mulheres de direita que pedem a divulgação dos documentos estão fazendo o mínimo, o que é pelo menos alguma coisa comparado aos seus compatriotas covardes, que se contentavam em usar a dor de mulheres abusadas sexualmente para ganhar o poder, mas agora usam seu poder para proteger um homem que foi considerado culpado de abuso sexual . E mesmo as mulheres não estão enfrentando agressivamente os homens que se opõem à verdade — particularmente o homem no topo. Em vez disso, elas parecem ter se convencido de que o presidente está do lado delas e simplesmente não entende completamente a sua causa. "Estou ansiosa para conversar com o presidente Trump sobre essas mulheres que conheci", disse Greene à CNN. "Eu também o encorajei, já esta manhã, que ele deveria ter essas mulheres no Salão Oval. Elas merecem estar lá."

Trump não se encontrou com as mulheres. Em vez disso, um funcionário da Casa Branca disse que qualquer republicano que assinasse a petição de dispensa estaria cometendo um " ato muito hostil " contra seu governo.

Greene ainda insistiu que poderia ter as duas coisas, sendo leal a Trump e defensora da teoria da conspiração de Epstein. "Todos sabem que lutei muito pelo presidente Trump durante anos, e essa pessoa tem o seu emprego porque lutei muito para ajudá-lo a ser eleito. E isso não é um ato hostil ao governo", disse Greene. "O ato hostil tem sido contra essas mulheres há muitos anos."

Os democratas estão se comportando de forma diferente. Espera-se que cada um deles apoie o projeto de lei Epstein.

Greene, pelo menos, parece ser uma verdadeira defensora da causa e parece querer genuinamente que os arquivos de Epstein sejam divulgados. Os democratas estão usando o caso de forma mais transparente como um instrumento de defesa — e, honestamente, bom para eles. A suspeita sobre Epstein e o que parece muito com um encobrimento tem sido uma questão extremamente instigante para a direita MAGA, obcecada por pedofilia. Tendo falhado em desenterrar pedófilos em porões de pizzarias ou vítimas de tráfico sexual em armários da Wayfair, os teóricos da conspiração conservadores finalmente encontraram um verdadeiro abusador sexual de crianças em Epstein — e ele acabou morto, assim como várias de suas vítimas . Por que Epstein conseguiu um acordo tão vantajoso quando foi acusado de crimes muito sérios na Flórida, como ele morreu apesar de estar sob vigilância suicida, por que algumas imagens de sua cela estavam inicialmente desaparecidas e por que houve uma resistência tão intensa à divulgação dos arquivos investigativos completos — tudo isso contribui para uma teoria da conspiração de primeira, inclusive para muitos de nós que estamos muito longe dos seguidores do QAnon, mas achamos algo um pouco conveniente demais em toda essa história.

Os democratas deveriam se mobilizar pela divulgação dos arquivos, tanto porque é o que as vítimas estão exigindo quanto porque isso evidencia a hipocrisia flagrante da direita. Mas o fato de as duas pessoas que lideram a acusação serem um republicano e um democrata cria um espetáculo um tanto desconfortável. O fato de as pessoas que lhes dizem "não" serem cada vez mais homens republicanos só piora a situação: as histórias das mulheres, mais uma vez, estão sendo usadas como peões em uma série de jogos de poder masculinos.