Bélgica em polvorosa devido à ameaça de drones, moradores se mostram sóbrios: 'Putin não vai simplesmente aparecer na nossa porta'
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É um dia ensolarado de outono, com temperatura amena. Um dia perfeito para limpar janelas, pensou Hilde Gielen, de 67 anos, moradora de Kleine-Brogel, na província belga de Limburg. Embora esteja um pouco distraída. "Fico olhando para cima para ver se há algum drone. Mas não vi nada esta tarde."
Como policial aposentada, Gielen mora ao lado da base aérea militar de Kleine-Brogel. Seu jardim e cerca ficam a apenas meio metro da "primeira linha afiada como uma navalha". Cerca de dois metros atrás, há outra grande cerca de arame farpado. "Costumava ser uma floresta aberta, e meus filhos subiam nas árvores", ela aponta para o campo adjacente conhecido como '10ª Ala Tática' — também chamada de 'KB' pelos militares. Com 450 hectares, a base é a maior das forças de defesa belgas.
A Base Aérea de KB ganhou destaque repentinamente esta semana devido aos numerosos avistamentos de drones. Seis relatos de civis foram recebidos na terça-feira, além de dois avistamentos pela polícia. O primeiro avistamento em Kleine-Brogel já havia sido relatado em 31 de outubro e continuou ao longo da semana seguinte. Relatos de drones também foram recebidos na base aérea belga de Florennes, na base militar de Marche-en-Famenne e nas bases militares de Heverlee, Elsenborn e Schaffen. Os drones só foram visíveis à noite.
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Hilde Gielen mora ao lado da base militar de Kleine-Brogel: "Fico olhando para cima para ver se há algum drone."
Foto de Aurélien GoubauOs aeroportos de Deurne (Antuérpia), Ostende e Bruxelas também foram afetados pela presença de drones. O tráfego aéreo em Bruxelas foi interrompido duas vezes na noite de terça-feira. A DHL sofreu interrupções no transporte de encomendas: dos 47 voos programados para aquela noite, 19 foram cancelados ou desviados. Dois mil pacotes médicos — contendo stents, medicamentos e isótopos radioativos — ficaram retidos. Os passageiros também foram afetados. Na quarta-feira, quarenta voos foram cancelados no aeroporto de Bruxelas em decorrência dos avistamentos de drones.
Segundo o Ministro da Defesa Theo Francken (N-VA), esta foi uma "operação estruturada e coordenada no tempo e no espaço". Não envolveu drones amadores nem pilotos de hobby. "Não usamos frequências de rádio convencionais, mas sim redes 4G e 5G. Além disso, os drones voaram em formação, algo que nem todos conseguem fazer", afirmou ele na quarta-feira perante a Comissão de Defesa da Câmara dos Representantes.
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Uma pequena capela ergue-se no meio do domínio militar fortemente guardado de Kleine-Brogel.
Foto de Aurélien Goubau"Esses não são dispositivos que você encontra à venda no mercado", concorda Elwin van Herck, especialista em drones e CEO do centro de treinamento North Sea Drones. "São miniaeronaves não tripuladas. Com uma envergadura de 3 a 4 metros, podem permanecer no ar por cerca de 20 horas e percorrer um raio de até 150 quilômetros. Isso permite que decolam de países vizinhos ou do mar." Segundo ele, o preço de um drone desse tipo chega rapidamente a "meio milhão de euros".
Gielen observa seu trabalho em vidro em Kleine-Brogel, refletindo o céu claro. "A princípio, pensei: 'Isso deve ser obra de algum transeunte preguiçoso'. Certamente os russos não voltarão ao mesmo lugar quatro vezes?", pondera pensativa, com o rodo de janela na mão. A poucos quilômetros dali, no centro do município de Peer, Miet Boonen caminha "um tanto preocupada" em direção à farmácia. "Não saber de onde vem a ameaça me assusta."
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Boudewijn Poelmans em seu quintal em Peer, Bélgica.
Foto de Aurélien GoubauOs drones são o assunto do momento, e as pessoas estão "com medo", diz Boudewijn Poelmans (73), um arquiteto aposentado. Mas ele não está alarmado. "Não vejo Putin aparecendo de repente na minha porta ou os russos bombardeando a Bélgica", sorri ele enquanto toma um cappuccino e fuma um cigarro ao sol. Ele não ouve mais o som estridente dos caças F-16 decolando. "Isso acontece todos os dias, mas se você não está acostumado, pensa: 'Está acontecendo uma guerra aqui'."
Uma grande parte dos mais de cinquenta caças F-16 da Bélgica está estacionada na Base Aérea de Kleine-Brogel. Ao passar pela base cercada, você verá inúmeras câmeras de segurança, um grande guindaste e obras de construção relacionadas à nova infraestrutura para os F-35 encomendados, que devem substituir os F-16 a partir de 2027. Isso torna a base um alvo estratégico para um "ator estatal".
A Bélgica está levando as provocações com drones "a sério", enfatizou o Ministro do Interior, Bernard Quintin (Mouvement Réformateur). Ele convocou uma reunião do Conselho de Segurança Nacional, onde o Primeiro-Ministro Bart De Wever, os vice-primeiros-ministros e os ministros da Justiça, da Defesa, do Interior e das Relações Exteriores discutiram a ameaça à segurança na quinta-feira. Ficou decidido que o Centro Nacional de Segurança Aérea (NASC) em Beauvechain, Brabante Valão, deve estar "totalmente operacional" até 1º de janeiro de 2026, para que os serviços de segurança possam "cooperar de forma integrada". "Para preparar a Bélgica para os futuros desafios à segurança aérea", disse o Ministro da Defesa, Francken.
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Na cidade flamenga de Peer, vários drones sobrevoaram e circularam a base militar de Kleine-Brogel.
Foto de Aurélien GoubauNa sexta-feira, haverá uma reunião de gabinete para discutir um plano de defesa contra drones no valor de 50 milhões de euros, com a aquisição a ser feita através da OTAN. A agenda do gabinete inclui a expansão das capacidades de combate a drones, a necessidade de sistemas de detecção modernos, requisitos de registro mais rigorosos e um protocolo para neutralizar drones.
Na quarta-feira, foi anunciado que o Secretário-Geral da OTAN, Mark Rutte, conversou com o Ministro da Defesa, Francken, sobre a invasão de drones e está preparado para oferecer "apoio". Mais cedo naquele dia, Francken gerou confusão ao afirmar que "a possibilidade de ativar o Artigo 4 da Carta da OTAN será estudada nos próximos dias". O Artigo 4 obriga os países da OTAN a realizarem consultas urgentes se um Estado-membro acreditar que sua segurança ou território está ameaçado. A Polônia invocou o artigo em setembro, após a detecção de drones russos no espaço aéreo polonês. O Ministro da Defesa, Francken, declarou posteriormente que "não era essa a sua intenção".
Embora ainda não haja provas concretas – as investigações federais ainda estão em andamento –, já é de conhecimento geral que os serviços de segurança belgas suspeitam que a Rússia esteja por trás das provocações. "Altamente plausível", concorda Joris Van Bladel, especialista em Rússia ligado ao Instituto Egmont de Relações Internacionais, em Bruxelas. A embaixada russa em Bruxelas nega veementemente espionagem ou interferência. "Isso também se encaixa no padrão russo de guerra híbrida", afirma Van Bladel.
Críticos e ex-militares falam de "anos de subinvestimento" na defesa belga e de "avisos ignorados" sobre drones. Van Bladel acredita que a Bélgica não é exceção nesse aspecto. "É perfeitamente normal que não tenhamos uma resposta imediata e adequada a essa corrida armamentista de drones. Até mesmo a Rússia e a Ucrânia estão com dificuldades para garantir a segurança de seu espaço aéreo." Segundo especialistas, a pressão sobre a Bélgica também oferece uma oportunidade para que o país assuma um papel de liderança.
Os incidentes com drones na Bélgica não são isolados. O tráfego aéreo em Hannover, na Alemanha, também foi interrompido na noite de quarta-feira devido ao avistamento de um drone perto do aeroporto. Nos dias anteriores, Bremen e Berlim também foram afetadas. A Alemanha culpa a Rússia; o Kremlin nega as acusações.
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Um ciclista passa pedalando em frente à base militar de Kleine-Brogel.
Foto de Aurélien GoubauQue a Bélgica – como o "coração da UE e da OTAN" – se encontre atualmente "no olho do furacão" não deveria ser surpresa, afirma Van Bladel. Ele também cita a Euroclear, a provedora de serviços financeiros em Bruxelas onde grande parte do dinheiro russo congelado desde a invasão da Ucrânia está depositado. Durante uma cúpula da UE em outubro, a primeira-ministra De Wever bloqueou provisoriamente o plano europeu de usar esses ativos para a Ucrânia. Segundo o Kremlin, tal ação seria um "ato de guerra".
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Houve também uma recente troca de palavras entre o Ministro da Defesa, Francken, e Dmitry Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, sobre o assunto X. Além disso, houve o encontro de dissidentes russos e do líder da oposição Mikhail Khodorkovsky em Bruxelas, na terça-feira. Ele também visitou autoridades europeias para "fazer lobby", segundo Van Bladel, que se encontrou pessoalmente com Khodorkovsky esta semana. Enquanto a mídia flamenga falava de um "espinho no flanco do Kremlin", o especialista em Rússia, Van Bladel, afirma que Putin "não está muito impressionado com a oposição".
Em Kleine-Brogel, é um segredo aberto há anos que armas nucleares americanas estão localizadas na base. "Conheço pessoas que trabalham lá e confirmam essa história", diz o morador local Poelmans.
Els Vanduffel (41), que trabalha como coordenadora em uma instituição de saúde, sai do açougue, conversando e rindo com um conhecido. "Não tenho medo de drones ou armas nucleares. Na verdade, moramos tão perto que, se uma bomba nuclear explodisse aqui, eu seria eliminada instantaneamente e não sentiria nada."
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Equipamentos militares e de aviação na base de Kleine-Brogel, na Bélgica.
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