Trump não pode sofrer
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O funeral de Charlie Kirk em Glendale foi o mais cafona, insincero e repugnante que já vi. Assisti por várias horas na CNN durante a noite, porque, como colunista, você precisa fazer o que puder pelos seus leitores, especialmente agora que eles ouvem regularmente, graças aos anúncios de TV, a voz de uma garota um tanto tímida: " A NRC levará você mais longe."
Eu adoraria ajudar leitores que não são do NRC, mas desde aquela reunião com Kirk, tenho minhas dúvidas. O que havia de tão ruim nisso? O kitsch do sentimentalismo imposto e da pseudo-religiosidade, combinados com falsas motivações políticas. Aqui, a memória de um homem assassinado estava sendo explorada para fins políticos. Isso, é claro, foi liderado pelo próprio Donald Trump, para quem toda a reunião foi feita sob medida: ele tinha que ser o último a falar.
Mas o que aconteceu? Algo que poderíamos ter previsto: Trump não sabe o que é luto. O luto lhe é estranho. O luto pressupõe preocupação com o destino dos outros. Trump só sentirá o luto quando perceber que é mortal, e então imediatamente instruirá seus redatores sobre o que deve ou não ser incluído no elogio fúnebre: mencionará os sucessos, especialmente se houver um Prêmio Nobel envolvido, mas não as derrotas. Ele também, com deleite satânico, compilará a lista de convidados: Putin, Bolsonaro e Orbán, mas não Biden, os Clintons e Zelenskiy.
O discurso de 45 minutos de Trump em Glendale, divagante como sempre, consistiu em dois componentes: os elogios obrigatórios aos falecidos, sem dúvida escritos por outros, que ele leu nos teleprompters, e as autocongratulações que ele improvisou. Assim, as coisas ainda estavam "incrivelmente boas" para o país, e ele seria capaz de esmagar cidades onde as coisas não estavam indo tão bem, como Chicago.
Ele falou do "mártir" Kirk nos clichês que já tínhamos ouvido de outros: que ele tinha sido um homem bom e devoto. Trump conhecia Kirk pessoalmente, e suspeito que o considerasse um fracote, pois deixou claro que seu ditado "não odeie seu oponente" não era para ele, Trump: "Eu não concordei com Charlie nisso. Eu odeio meu oponente. Não quero o melhor para ele, desculpe."
Foi um raro momento de autoconsciência. Pensei em Wilders por um instante: mais um hater. A única diferença é que Trump declara abertamente seu ódio. Trump também continua a apoiar as pessoas que seguem seu ódio, chegando a socorrê-las, enquanto Wilders agora chama as pessoas que inspirou a atos de ódio de "escória", como se não tivesse nada a ver com elas.
O ponto baixo do funeral em Glendale foi guardado para o final. Trump chamou a viúva enlutada, Kirk, para se juntar a ela no palco e mergulhar nos aplausos e gemidos de apreciação da multidão que assistia. A viúva também parecia não se cansar, pressionando-se repetidamente contra a folia do homem que ela talvez visse como o novo Salvador — assim como as dezenas de milhares de seguidores naquele estádio. O que a possui? Só Deus sabe.
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