Marcas de fabricante ganharam terreno às marcas próprias no final de 2024
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A quota de mercado das marcas de fabricantes subiu 0,6 pontos percentuais no último trimestre do ano passado, face a igual período de 2023, para 54,3%, invertendo uma tendência de decréscimo que se verifica há mais de uma década, revelam os dados do estudo feito pela Centromarca com a Kantar.
A tendência de melhoria já se verificava no terceiro trimestre de 2024, ainda que a quota de mercado se fixasse 0,4 décimas abaixo da do período entre julho e setembro de 2023, em 52,9%.
“É uma dinâmica positiva”, diz ao Jornal Económico (JE) Pedro Pimentel, diretor-geral da Centromarca. As marcas de fabricantes perderam 2,7 pontos de quota entre o início de 2023 e o final do primeiro semestre de 2024 e “recuperaram essa perda quase integralmente nos últimos seis meses de 2024”, acrescenta.
Pedro Pimentel justifica esta evolução com o ganho de poder de compra dos consumidores em Portugal, que os leva a optar por comprar mais qualidade. “Uma situação económica um bocadinho mais favorável faz com que as pessoas comecem a ser um pouco mais exigentes em relação àquilo que vão comprando”, diz.
Entre o ano passado e o anterior alteraram-se hábitos. O crescimento do consumo em casa diminuiu, tendo aumentado apenas 1,3% face a 2023. “Com o teletrabalho a diminuir, há sempre alguma refeição que faríamos em casa que já não podemos fazer, e isso é refletido no crescimento do consumo em casa”, explica Pimentel. O crescimento do consumo fora de casa foi de 6,3%.
Para além do maior desenvolvimento das marcas de fabricantes, o estudo mostra que o ritmo de crescimento das marcas da distribuição têm registado um abrandamento, aumentando 2,8% em valor entre 2023 e 2024.
Numa comparação geográfica, Pedro Pimentel refere que Portugal e Espanha estão “melhores” do que a restante Europa Ocidental.
“Temos de comparar a dois níveis. Primeiro a um nível macroeconómico, o poder de compra está relacionado com este nível. Portugal está a viver um momento de recuperação de poder de compra a um nível superior ao de outros países da Europa”, diz. No entanto, “o segundo nível são as taxas de crescimento. Quando falamos em consumo por si só, Portugal continua abaixo de outros países da Europa”, destaca.
Apesar dos consumidores em Portugal revelarem um maior poder de compra, “são cautelosos” nos seus gastos. “Não é por eu ter mais 200 euros no bolso que vou desatar a comprar coisas, esta é uma despesa relativamente estática, porque demora tempo até que os hábitos de consumo das pessoas mudem”, sublinha Pimentel.
Em Portugal cerca de 30% do orçamento das famílias é destinado ao consumo, sendo esta a maior fatia.
O estudo revela que em média o consumidor nacional desloca-se 13 vezes ao supermercado por mês, um número que sobe para 17 na faixa etária dos 65 anos. Este número elevado de idas ao supermercado faz com que os carrinhos de compra dos portugueses não venham tão cheios e que os consumidores sejam mais organizados e eficientes. Este torna-se num desafio para as marcas, que muitas vezes deixam de ser uma prioridade na compras das pessoas.
“Se as pessoas forem menos vezes às compras, comecem a fazer compras mais espaçadas, pode existir uma alteração no carrinho de compras, porque se deslocam a supermercados maiores e podem optar por produtos que não são do dia-a-dia”, diz Pedro Pimentel.
O diretor geral conclui que “os dados apontam que, em 2025, as marcas que melhor entenderem estas mudanças geracionais e se adaptarem mais adequadamente às novas tendências de consumo estarão melhor posicionadas para o sucesso num mercado cada vez mais competitivo e dinâmico”.
jornaleconomico