Não partilhe quarto ou vida com o psicólogo virtual roomie! O disparate artificial
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Psicólogos robô e psicoterapia com umas «gentes» virtuais sem empatia? Nem consigo sentir-me bem quando os meus alunos de Psicologia abordam esta curiosidade – não de ânimo unânime – embora lhes seja fácil de explicar que é tudo um engodo só porque tem a expressão da Inteligência Artificial associada (IA). Que é um chatbot que debita uma série de informação decorada e sem contexto. Tudo o que é IA parece interessante, parece que apareceu agora e somos uns sortudos por estarmos a viver a suprema era. Mas, a verdade é que a IA existe desde que a internet começou e desde que enviamos sms no telemóvel.
Porém, o que realmente me perturba é pensar que há financiamento científico permitido para projetos desnecessários e antiéticos como um robô psicólogo chamado roomie. Só o nome da invenção já deixa a desejar (traduzindo do Inglês significa “colega de quarto’ ou companheiro de casa sem relação íntima). Se houve financiamento científico e aprovação ética para este projeto, está a ciência perdida e os fundamentos da Psicologia comprometidos. Querem evoluir tanto que ‘trasladam’ além do aceitável. Emprego precisamente a forma verbal ‘trasladam’ para conferir o efeito sinistro e fatal que, inteiramente, um roomie inventado por ter na vida das pessoas que se deixem encantar pelo canto falacioso da sereia.
Aliás, agora ocorre-me uma réstia de esperança: há pouco tempo eu parei com o meu cão gigante no carro (ele ia no banco traseiro) e várias crianças aproximaram-se e insistiram que era ‘um cão de mentira’, um ‘cão robô’. E não lhe queriam tocar, por isso. Mas estavam pasmados. Quando eu os sosseguei e disse que podiam ‘fazer uma festinha’ porque era um cão de verdade, então todos correram para abraçar o cão, porque não era ‘de mentira’. Espero que isto aconteça com os chatbots fingidos de terapeutas. Não lhe tocarem, não confiarem e se afastarem destas ideias.
Li algures, pois não vale a pena citar tal fonte, que os psicólogos-robô são bons aliados a entender os sentimentos do paciente durante as consultas. Acabo de escrever esta frase e nada faz sentido entre palavras como ‘aliados’, ‘entender’, ‘sentimentos’, ‘consultas’ …projetadas num projeto que foi aprovado para a ‘mente’ robótica. Uma mente que mente.
E, por falar de palavras e falta de nexo, enquanto especialista da psicologia da linguagem e afins, não entendo como consideraram (entidades de renome) que este projeto de IA é um exemplo profícuo dos modelos de linguagem avançados. A linguagem é e sempre será prioritariamente humana porque é nesta que reside o sentido. Podemos programar e alimentar robôs com os nossos programas neuronais de linguagem, mas não podemos querer ser um Ícaro avarento no que diz respeito ao cuidado da saúde mental.
Ora quando leio obscenidades do conhecimento como um robô ‘entender sentimentos’, não me apetece alongar e imaginar que prescrição o psicólogo recomenda ao paciente ou utente. E, por prescrição, entenda-se que não é nada medicamentoso. Para isso ainda há de ser permitido o financiamento de robô psiquiatra.
Não são algoritmos que determinam como identificar, tratar e aconselhar no âmbito da saúde mental. Nos algoritmos não há qualquer ‘molécula’ de empatia. E como programar a consciência empática? Nem preciso sentir ameaça para os meus colegas que, exercendo atividade como psicólogos e como psicoterapeutas, temem a IA. Não se teme algo que não sabe cuidar de ninguém. Pior foi quando li que o tal rommie se quer apresentar como um especialista de dez anos de carreira e também (querer) poder atuar na psicanálise. Teremos um holocausto da psique humana até ao final de 2025 (data prevista para o rommie). Não se trata este artigo só de uma opinião, mas de um conselho a evitar modas da IA descabida. Não procurem colegas de quarto como este ‘roomie’ porque a poupança nas consultas a ‘sério’ não existe.
sapo