Como Vieira olha o xadrez das eleições (com ou sem Sérgio)

Era o segredo mais mal guardado do mundo, apesar de alguns continuarem a garantir que pode ainda cair. Depois de alguns meses mais resguardado na ressaca da operação Cartão Vermelho, que fez com tivesse de pedir a demissão da liderança do Benfica, da SAD e de todas as empresas do universo encarnado (mesmo não sendo essa a sua vontade), Luís Filipe Vieira teve sempre na cabeça a possibilidade de um dia recuperar o controlo do clube da Luz. Inicialmente admitia até poder apoiar alguém, a partir de certa altura quis assumir o risco dessa intenção. Agora, como o Observador já tinha adiantado, falta só oficializar a candidatura.
Vieira vai avançar, Rui Costa ainda em reflexão: os bastidores da antecâmara das eleições do Benfica
Entre a “confirmação” que esse movimento seria uma inevitabilidade e as notícias mais recentes que colocam a possibilidade de Sérgio Conceição ser o treinador do antigo líder caso vença as eleições, Rui Costa assumiu que seria candidato, recuperando todas as páginas que tinha nas redes sociais para a campanha de 2021, e Martim Mayer oficializou também em termos formais que iria avançar no sufrágio de outubro. Nesse lapso de tempo, Vieira também não parou – e todas as restantes listas já certas não pararam à luz de Vieira.
João Noronha Lopes ou João Diogo Manteigas mantêm os planos de ação que tinham há muito, seja através de presenças em sessões de esclarecimento em Casas do Benfica pelo país, seja em promoções de medidas do programa eleitoral através das redes sociais, mas também sabem há algumas semanas que terão de adequar depois as mensagens à presença do antigo presidente dos encarnados na corrida – mesmo tendo consciência que o grande “alvo” de Vieira será Rui Costa, uma coisa é preparar uma campanha tendo o atual líder como único adversário de continuidade e outra é perspetivar um período em que não só se tenta defender o que foi feito nos últimos quatro anos mas também o que clube atravessou nas derradeiras duas décadas.
Oposição saúda recandidatura de Rui Costa, mas com reparos à liderança atual
Para Vieira, o tempo é de “conhecer terreno”. Ao longo de vários meses, e mesmo tendo algumas sessões de julgamento da operação Saco Azul pelo meio, o empresário que liderou o Benfica durante quase 20 anos foi mantendo dezenas e dezenas de contactos com figuras do universo encarnado incluindo nomes que são hoje candidatos, casos de Cristóvão Carvalho ou João Diogo Manteigas (Noronha Lopes recusou as abordagens, tal como fizera com o também empresário Marco Galinha). Em paralelo, foi tomando conhecimento de algumas coisas nos bastidores da Luz fruto das ligações que ainda mantém com pessoas que estão no clube. Quando fez uma reflexão sobre o presente e futuro das águias, decidiu que ia mesmo avançar.
A revista Sábado noticiou esta quarta-feira que Sérgio Conceição seria a escolha caso ganhasse as eleições. O Observador sabe que houve um encontro com o treinador e que Vieira, por altura da saída de Roger Schmidt, via com melhores olhos uma aposta no antigo técnico do FC Porto do que o regresso de Bruno Lage, como acabou por acontecer, algo que foi partilhando com várias pessoas próximas. No entanto, e apesar da vontade de trocar de treinador em caso de triunfo no sufrágio, não foi assinado qualquer tipo de acordo. O próprio Sérgio Conceição não quer estar associado a qualquer lista ou candidato ao Benfica, seja para ficar liberto para eventuais propostas que surjam, seja pela vontade em continuar a trabalhar no estrangeiro.
Partes técnicas à parte, Luís Filipe Vieira entende que tudo aquilo que foi construindo na Luz desde que assumiu a liderança (primeiro da SAD, depois do clube e de todas as sociedades) está agora a ser desvirtuado por aquele que um dia apelidou de “delfim”, Rui Costa. O ex-presidente considera que a situação financeira sofreu uma viragem de rumo que coloca em perigo o crescimento sustentado no futuro e também que o projeto desportivo do futebol chegou a um ponto de completa estagnação – uma ideia que nem todas as recentes alterações anunciadas na estrutura é capaz de inverter. É na defesa do que considera ser todo o seu “legado” que decidiu avançar com uma candidatura nas próximas eleições, até contrariando aquilo que algumas pessoas próximas foram aconselhando por tudo o que aconteceu no passado após a sua saída.
Apesar disso, Vieira avança num movimento que pode ser apenas travado se surgir algum desenvolvimento inesperado em algum dos processos que enfrenta na Justiça, algo que não espera aconteça até outubro (tendo a convicção pessoas de que será ilibado de todas as questões com o tempo). Rui Costa será uma espécie de adversário direto na corrida, sabendo que terá sempre de superar um handicap que tem a ver com o natural favoritismo de quem lidera o clube e pode ir tomando decisões com impacto na perceção dos sócios que votam, seja a nível de reforços para o futebol (e, naturalmente, os resultados que os mesmos consigam depois trazer no início da época), seja a nível de projetos ligados aos encarnados como a nova Rádio que se juntará à BTV ou o novo hotel temático na Baixa lisboeta que irá nascer onde era a antiga sede das águias.
E como analisa Vieira as contas? Alguns candidatos já confirmados referem que o movimento liderado pelo antigo presidente vai fazendo sondagens para perceber as reais possibilidades numa ida às urnas mas existe também a perceção de que o eleitorado do Benfica poderá estar dividido em dois grandes grupos, sendo que um será disputado entre Rui Costa e Vieira e outro ficará com João Noronha Lopes, João Diogo Manteigas, Cristóvão Carvalho e Martim Mayer. Confirmando-se essa ideia, as possibilidades de haver uma segunda volta perante a incapacidade de alguém chegar aos 50% na primeira votação aumentam e Vieira considera que é possível ser um dos mais votados para discutir depois a liderança dos encarnados.
observador