Comissão Nacional do PS analisa pesada derrota e decide calendário interno

José Luís Carneiro, Ministério da Administração Interna. Foto: Lusa
Num ambiente que não tem sido dos mais saudáveis, o PS reúne este sábado depois da pesada derrota nas legislativas, que levou Pedro Nuno Santos a demitir-se. A Comissão Nacional reúne para analisar os resultados e aprovar os calendários eleitorais, estando até agora na corrida à liderança José Luís Carneiro. O PS olha para dentro de si próprio numa altura em que ainda não tem contabilizada toda a extensão da sua derrota – falta ainda apurar os votos da emigração, que com certeza atirarão os socialistas para o terceiro lugar do ranking parlamentar.
E como é tradicional entre socialistas – e sinal de democracia interna, costumam dizer – há vozes discordantes que este sábado vão encontrar-se. Genericamente, há vários socialistas que acusam José Luís Carneiro de ter sido demasiado lesto em avançar com a sua disponibilidade para substituir o homem que o derrotou há uns meses atrás – inviabilizando assim um debate interno que seria importante o partido fazer antes das autárquicas.
Na reunião de hoje, que, recorda a Lusa, servirá para analisar os resultados das legislativas, serão ainda aprovados os calendários e regulamentos eleitorais internos. Carlos César, numa proposta também subscrita por Pedro Nuno Santos, propõe a este órgão máximo entre congressos a realização de eleições imediatas para o cargo de secretário-geral socialista, entre o fim de junho e início de julho, adiantou à Lusa fonte oficial na quinta-feira.
Em alternativa a esta proposta do presidente do PS, o antigo candidato à liderança socialista Daniel Adrião, juntamente com outros dirigentes, propõem à Comissão Nacional do PS eleições primárias abertas apenas em outubro ou novembro, considerando mais sensato que o novo secretário-geral seja escolhido depois das autárquicas.
Carlos César ouviu, segundo fonte oficial adiantou à Lusa, “diversas personalidades apontadas como possíveis candidatos à liderança do PS e optou pelo cenário de eleições imediatas apenas para o cargo de secretário-geral do partido”.
Horas depois desta notícia, soube-se que os dois ex-ministros dos governos de António Costa, Fernando Medina e Mariana Vieira da Silva, estavam fora desta corrida eleitoral, numa semana em que também Duarte Cordeiro e Alexandra Leitão já tinham manifestado a sua indisponibilidade.
Assim, neste momento é o antigo candidato à liderança do PS José Luís Carneiro – que há cerca de um ano e meio perdeu as diretas para Pedro Nuno Santos – o único nome que até agora avançou a sua disponibilidade para a sucessão da liderança do PS. Numa nota difundida logo na segunda-feira ao final dia, o antigo ministro da Administração Interna assegurou que estará disponível para servir o PS e Portugal, considerando que o partido deve fazer “uma reflexão profunda” e abrir um novo ciclo, além de contribuir para a estabilidade política. José Luís Carneiro sabe que esta ‘pressa’ pode ser politicamente ‘suicidária’: tem pela frente uma mais que provável derrota nas eleições autárquicas (que não deixarão de ser ‘contaminadas’ pelas legislativas) e outra não menos provável derrota nas presidenciais – para as quais ainda não tem candidato. Vale a pena recordar que José Luís Carneiro foi em tempos apoiante de António José Seguro quando o agora possível candidato socialista disputou (e perdeu) a liderança com António Costa – mas isso não fará do antigo líder socialista um candidato particularmente bem posicionado para vencer Gouveia e Melo.
Segundo os resultados provisórios, o PS tem neste momento 58 lugares no parlamento, com um resultado de 23,38%, ou seja, 1.394.501 votos. Com este resultado, o PS surge quase empatado com o Chega e, em comparação com os mesmos resultados do ano passado, também sem a emigração, perdeu mais de 365 mil votos num ano. Este é o terceiro pior resultado da história do PS em termos de percentagem, tendo a marca só sido pior apenas em 1985, com Almeida Santos, e em 1987, com Vítor Constâncio.
No discurso no qual assumiu a derrota, o líder do PS assumiu a responsabilidade do resultado, disse que deixa de ser secretário-geral se “puder ser já” e que não quer “ser um estorvo nas decisões” que o PS tem que tomar. “Mas como disse Mário Soares, só é vencido quem desiste de lutar e eu não desistirei de lutar. Até breve. Obrigado a todos”.
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