"Aliyev não pode recuar?" O eixo Moscou-Baku se rompeu, todos sentirão as consequências

Sempre houve problemas políticos entre a Rússia e o Azerbaijão, mas eles sempre foram resolvidos. A parceria se rompeu no ponto mais delicado: o nacional. Ilham Aliyev parece incapaz de parar, pois perderá o apoio da população. O Kremlin permanece em silêncio, e o Ministério das Relações Exteriores alimenta as chamas do conflito.
Elena Petrova, Tatyana Sviridova
O que aconteceu com Ilham Aliyev, que adotou uma “retórica agressiva” em relação à Rússia?
Ele sempre manteve relações de lealdade e parceria, tanto em palavras quanto em atos, com a Rússia em nível estatal e com Vladimir Putin em nível pessoal. Jornalistas conseguiram calcular que Aliyev se encontrou com o presidente russo diversas vezes nos últimos três anos. Agora, é como se ele tivesse sido substituído.
Em resposta às duras ações das forças de segurança russas contra a diáspora azerbaijana nos Urais, que levaram à morte de duas pessoas, as autoridades azerbaijanas estão respondendo com prisões de russos igualmente duras e igualmente demonstrativas.
— Aliyev não pode recuar, caso contrário perderá seu prestígio como líder nacional. Aqui, eles entraram na questão nacional, e é a mais delicada. O processo está em constante crescimento. Aliás, isso é típico de Estados autoritários. Não se trata de uma questão de negócios. Trata-se de uma questão: eu sou o chefe ou não? O povo me seguirá ou não? Nessa situação, os negócios ficam em segundo plano — acredita o Doutor em Ciências Políticas Yuliy Nisnevich.
Baku ficou mais bonita. Foto: Mikhail Tereshchenko. newizv.ru/TASS
Após a troca de atos demonstrativos de intimidação, houve uma calmaria, mas isso é temporário, acreditam os especialistas. O principal problema, dizem eles, é que Moscou parece não ter percebido como o Azerbaijão se tornou um forte Estado regional. Os propagandistas russos continuam a dizer que Baku é uma cidade russa, e Vladimir Solovyov não se cansa de repetir: "Nós levantamos a sobrancelha, o que é o Azerbaijão?"
— Para ser mais preciso, isso é licenciosidade política. O mundo está estruturado de forma diferente agora. Cada Estado acredita que tem direitos, e eles não podem ser tratados dessa forma. Nas condições modernas, isso é inaceitável. Além disso, o Azerbaijão não é o país mais pobre nem o mais atrasado. Parece bastante confortável. A Turquia está por trás disso, tudo é bastante claro aqui. E aqui eles decidiram que tudo é permitido, e então se atiraram para a morte — resume Yuliy Nisnevich.
O Azerbaijão administrou seu petróleo com sabedoria, não cedendo seus recursos naturais a uma única pessoa. Em termos militares, Baku depende da Turquia. No entanto, a Rússia não deixou de ser um importante parceiro comercial. A vitória em Karabakh, porém, inspirou especialmente a nação. Ilham Aliyev cumpriu a promessa feita por seu pai, Heydar Aliyev. Agora, as autoridades em Absheron não precisam mais flertar com a Rússia e engolir possíveis insultos.
Encontro de aliados: Aliyev e Erdogan em Nagorno-Karabakh. Foto: newizv.ru/Serviço de imprensa do Presidente do Azerbaijão/TASS
— Sob o comando do velho Aliyev, o Azerbaijão ainda não era 100% independente. E agora atingiu esse nível. O jovem Aliyev é reconhecido internacionalmente, todos o visitam, todos querem ser amigos dele. Sob o comando do meu pai, o Estado ainda era muito jovem. Agora atingiu uma certa maturidade e não quer perder prestígio. Além disso, infelizmente, toda essa história com a diáspora veio à tona — diz o especialista.
E como confirmação da força do país, os círculos políticos estão propondo seriamente instalar uma base militar turca lá ou alugá-la para outro parceiro - o Paquistão, que possui suas próprias armas nucleares.
Era realmente isso que as autoridades russas estavam tentando alcançar?
Especialistas veem a piora das relações com um parceiro leal como uma incapacidade da diplomacia russa de conter a crise. Agora, Ilham Aliyev recebe abertamente o Ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, e Nikol Pashinyan expressa apoio a Baku no conflito. E quem precisava disso?
O chefe do Azerbaijão recebeu o Ministro das Relações Exteriores da Ucrânia. Foto: Serviço de Imprensa do Presidente do Azerbaijão
Especialistas em combustível e energia ouvem com surpresa as declarações de políticos da Federação Russa sobre a dependência do Azerbaijão do petróleo e gás russos. Números fantásticos são divulgados, indicando que a participação de Moscou no balanço energético de seu vizinho do sul chega a quase 25%.
— Não cooperamos realmente no setor de petróleo e gás; somos basicamente concorrentes no mercado global. Porque tanto nós quanto eles exportamos petróleo e gás. Não vendemos nada para eles agora, embora tenha havido momentos em que os ajudamos — lembra Igor Yushkov, analista líder do Fundo Nacional de Segurança Energética e especialista da Universidade Financeira do Governo da Federação Russa.
Essa situação ocorreu na década de 2010, quando o Azerbaijão não entregou gás conforme seus contratos de exportação. O país foi ameaçado com multas e penalidades, e então a Gazprom veio em seu socorro. Mas agora os azerbaijanos estão implementando um grande projeto de gás, o Shah Deniz 2, e simultaneamente construíram dois gasodutos para a Europa.
E o projeto Norte-Sul, em sua parte petrolífera, permaneceu apenas uma proposta da Rússia, à qual Baku nem sequer respondeu. Mas os embarques de contêineres através do Azerbaijão para o Irã estão em andamento. Baku não quer um oleoduto, e Moscou não pode, por vários motivos, sendo o primeiro a situação instável no Irã.
— Agora, as empresas russas dirão: para onde estamos indo? Para que nossas exportações sejam bloqueadas? Por que investir bilhões de dólares na construção de um oleoduto, na expansão do oleoduto, na construção em território iraniano, na construção de um porto, para depois sofrermos com o bloqueio do Estreito de Ormuz? Acho que a história atual mostrou tudo — diz Igor Yushkov.
A Lukoil reduziu sua participação no projeto Shah Deniz 2. Foto: Alexander Ryumin. newizv.ru/TASS
No entanto, a cooperação entre o Azerbaijão e a Rússia na área de recursos energéticos continua. E, surpreendentemente, é um fato: os azerbaijanos estão ajudando Moscou a contornar as sanções.
A Agência Nacional de Crimes e o Tesouro emitiram um alerta vermelho para dois comerciantes de petróleo do Azerbaijão.
Etibar Eyyub e Tahir Garayev operam mais de 100 petroleiros da frota paralela russa e auxiliam a Rosneft na exportação. Os britânicos acusam os comerciantes de desativar o sistema de identificação automática AIS em seus petroleiros. Os petroleiros transbordam petróleo no mar para ocultar sua origem, e os proprietários mudam regularmente as bandeiras sob as quais os navios navegam. E tudo isso para impedir que as autoridades ocidentais rastreiem o movimento de petróleo da Federação Russa.
Comerciantes de petróleo do Azerbaijão ajudam a Rosneft a vender hidrocarbonetos. Foto: newizv.ru/dpa/picture-alliance/ТАСС
Ao mesmo tempo, circulam rumores no mercado petrolífero russo de que as tensões entre Baku e Moscou estão criando riscos adicionais para algumas petrolíferas russas. Uma que surge com frequência é a russa Lukoil, fundada pelo azerbaijano Vagit Alekperov.
— Os riscos são altos. Tirar essa propriedade da indústria petrolífera causará desestabilização. É claro que isso cria riscos adicionais para a Lukoil. Mas, mesmo formalmente, Alekperov não é o chefe da Lukoil, embora todos entendam que ele é definitivamente o "pai fundador" e certamente mantém influência na Lukoil, mas formalmente ele não é o chefe, nem o acionista controlador. Para que isso aconteça, acho que as relações devem se tornar muito tensas — Igor Yushkov expressa dúvidas.
Segundo o especialista, a Lukoil agora fará tudo o que puder para se distanciar da história com a diáspora azerbaijana.
— Eles não precisam se associar ao Azerbaijão, com a piora das relações. Apenas fiquem quietos. Esta é uma empresa russa. Por favor, não temos nada a ver com eles — prevê Igor Yushkov sobre as ações da empresa.
O presidente do Azerbaijão e sua esposa receberam o líder russo em sua residência, Zugulba. Foto: Vyacheslav Prokofiev. newizv.ru/TASS
Há apenas um ano, observadores de ambos os lados da fronteira observavam fotos de um encontro amigável entre o casal presidencial azerbaijano e o líder russo. Na ocasião, os políticos se reuniam informalmente no final da noite. Vladimir Putin estava sentado em um sofá baixo, sem paletó. À sua frente, estavam Ilham Aliyev e sua bela e inteligente esposa, Mehriban, a primeira vice-presidente do país. Todos sorriam, o clima era descontraído, como costuma ser entre amigos.
Hoje, os principais atores — os presidentes da Rússia e do Azerbaijão — permanecem em silêncio no espaço público. Fontes particularmente "informadas" relatam as tentativas secretas de reconciliação, empreendidas por vários lados por bilionários azerbaijanos que vivem na Rússia. Mas não há nenhuma reação oficial.
Além disso, a mídia noticiou hoje que surgiram dificuldades na Rússia para acessar recursos azerbaijanos publicados em russo. Há problemas em Moscou, Astrakhan, Volgogrado, São Petersburgo, Vologda, Chelyabinsk e outras regiões, não apenas na internet móvel, mas também ao tentar acessar via internet com fio. Ao mesmo tempo, o Roskomnadzor não notificou os conselhos editoriais desses veículos de comunicação sobre a instauração de processos contra eles.
— Não sabemos como essa espiral vai continuar a se desenrolar. Por enquanto, ela está em ascensão, então qualquer carta pode ser colocada na mesa. Não sei, espero que alguém seja inteligente o suficiente para parar e começar a amenizar a situação. Simplesmente não há temas mais dolorosos do que os sentimentos nacionais. Nesta fase, é difícil dizer o que acalmará o coração. Todos os dias, novos truques acontecem — afirma Yuliy Nisnevich.
Ditador ou Líder Nacional?. Foto: president.az/ru/articles/view/62139. Serviço de Imprensa do Presidente do Azerbaijão
Com a retirada da Rússia do Cáucaso do Sul, há cada vez menos influências sobre a situação. A diplomacia pensa em termos do século passado, quando havia uma grande Rússia e, por trás dela, vários satélites. Há muitas ambições, diz o professor Nisnevich, mas o resultado é zero:
— Eles perderam influência em todos os lugares. Além de Lukashenko, não sobrou ninguém. E eles continuam na mesma linha. O mundo mudou. Não é mais centralizado e hierárquico. Está distribuído, todos afirmam ser tratados com respeito. Cada país demonstra que é suficientemente subjetivo. Os velhos hábitos soviéticos não funcionam mais.
Por outro lado, talvez seja bom que o Kremlin permaneça em silêncio. Então, ainda há a possibilidade de que o conflito possa ser resolvido, embora, com tantos pratos quebrados, não seja fácil.
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