Por que o funcionalismo público do Canadá precisa de mais "encanadores" e menos "poetas"

Donald J. Savoie passou décadas estudando o funcionamento interno da burocracia federal canadense. Ele observou Ottawa se tornar mais centralizada e mais lotada com o que ele chama de "poetas", pensadores políticos e consultores, enquanto os "encanadores", os trabalhadores da linha de frente que prestam serviços aos canadenses, não foram priorizados. Em uma entrevista ao National Post sobre o conceito, conforme discutido em seu livro recente "Speaking Truth to Canadians About Their Public Service" , Savoie explica por que esse desequilíbrio importa. Savoie é Catedrático de Pesquisa do Canadá em Administração Pública e Governança na Université de Moncton.

Obrigado pela pergunta, é uma boa pergunta. Já fui entrevistado muitas vezes sobre o livro, e poucos se interessaram pelos poetas e encanadores, e acho que isso é fundamental.

Poetas são pessoas, principalmente em Ottawa, que fazem parte do governo e trabalham em questões políticas, na ligação, na coordenação ou lidando com a mídia ou com ministros para definir políticas.

Encanadores são aqueles que prestam serviços aos canadenses. Encanadores são aqueles a quem você solicita um passaporte, encanadores são aqueles a quem você solicita uma pensão por velhice ou qualquer programa que você queira acessar; eles são aqueles que prestam programas e serviços aos canadenses. Portanto, as diferenças entre poetas e encanadores são bastante pronunciadas.

Cresceu a passos largos nos últimos 10 anos. Em 2014, eram 340.000, em 2025, chegaremos a 445.000, então dá para ver a diferença. São mais de 100.000 a mais.

O crescimento claramente favoreceu os poetas. E digo isso justamente pelo grande número de servidores públicos em Ottawa — o número cresceu. E não cresceu nem perto da mesma proporção nos cargos locais e regionais.

Qual é o número certo? Qual é a porcentagem certa? Francamente, é difícil responder a isso. Gostaria de lembrar que, há 40 anos, cerca de 25% dos servidores públicos federais estavam em Ottawa e 75% nas regiões, e esse número parecia adequado. Portanto, minha opinião é que devemos nos esforçar para atingir esse objetivo.

Posso dizer que na França, na Inglaterra e nos Estados Unidos, o número de servidores públicos na capital nacional, seja em Londres, Washington ou Paris, não chega nem perto da porcentagem que temos no Canadá.

No Reino Unido, por exemplo, estou arriscando, mas cerca de 75% dos servidores públicos estão fora de Londres, e o governo, nos últimos anos, tem feito uma tentativa deliberada de transferir cada vez mais servidores públicos para fora de Londres.

Nenhum país do mundo ocidental concentrou tantos funcionários na região da capital nacional quanto o Canadá.

Não faltam pessoas em Ottawa tentando ter grandes ideias. Acho que, se há um problema, é na prestação de serviços. São pessoas tentando ligar para a Receita Federal do Canadá para obter respostas sobre imposto de renda, e a Receita Federal está tendo problemas com o fornecimento de passaportes.

Então, grandes ideias... há milhares delas em Ottawa, pagas para ter grandes ideias. Não acho que faltem grandes ideias, faltam pessoas prestando serviços aos canadenses.

Você não precisa de um exército de pessoas para ter grandes ideias.

Acredito que o setor privado não tem escolha senão acertar, não tem escolha para encontrar o equilíbrio adequado, porque se uma grande empresa privada não encontrar o equilíbrio adequado, o mercado lhe dirá para encontrar o equilíbrio adequado. A concorrência lhe dirá para encontrar o equilíbrio adequado.

Há um equilíbrio natural no setor privado que acontece simplesmente porque há concorrência, há forças de mercado, há todos os tipos de forças que determinam a importância de executar uma operação eficiente; essas forças não estão presentes no setor público.

O que posso dizer é que desejo tudo de bom a eles. Acho que uma solução melhor seria: temos quase 300 organizações federais, temos 100 programas do governo federal. Acho que uma solução melhor seria o governo federal analisar cuidadosamente todas as suas organizações e programas e verificar quais já passaram da data de validade. Ver quais programas não repercutem mais como quando foram criados. Acho que há muita redução de organizações e programas que poderia ser feita.

Os cortes de 15% transmitem a mensagem de que todos os programas e organizações têm a mesma prioridade: basta reduzir os 15%. Eu teria pensado que uma solução melhor seria ver que temos programas que não se encaixam na nossa agenda. Temos organizações que não atendem ao propósito para o qual foram criadas inicialmente, então por que não analisamos isso? Depois de resolvermos isso, talvez possamos analisar os 15%.

Existem algumas, não muitas. Vou dar um exemplo. Se você contratar um auditor na Receita Federal do Canadá, cada auditor contratado poderá gerar X valor de receita. Então, você contrata um auditor e pode esperar um retorno.

Mas, na maioria dos casos, pelo menos para poetas, como avaliar o desempenho de um poeta? Isso depende do ponto de vista de quem vê. O poeta pode ter 101 razões pelas quais as coisas não funcionam. A culpa é dos políticos, da mídia, da falta de recursos, há todo tipo de razão que você pode usar.

Você pode encontrar marcadores que funcionam no lado da entrega, mas não encontra marcadores que funcionam no lado do poeta.

Este é o último artigo de uma série do National Post sobre Como o Canadá Vence. Leia os artigos anteriores aqui.

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