O fim do centavo?

Vejo dois problemas nas alegações feitas neste artigo. Primeiro, parece muito improvável que o centavo desempenhe um papel útil em nossa economia. Segundo, a remoção do centavo não causaria preços mais altos – na verdade, o inverso é mais provável.

Hoje, o IPC é cerca de 38 vezes maior do que em 1900. Naquela época, a menor moeda produzida pelo governo americano era o centavo — assim como hoje. Em termos de dólares atuais, os americanos de 1900 optaram por não produzir moedas com valor nominal inferior a 38 centavos. Não só não está claro que precisamos de centavos, como até mesmo moedas de cinco e dez centavos têm utilidade bastante questionável. Parecíamos viver bem sem moedas com esse poder de compra em 1900.

Mesmo em meados da década de 1960 (quando eu tinha uns dez anos), a moeda de um centavo era vista como tão sem valor que as crianças eram provocadas por pegar uma na calçada. E, no entanto, o IPC hoje é dez vezes maior do que em meados da década de 1960.

Portanto, o argumento da eficiência a favor dos centavos é extremamente fraco. Mas e quanto ao argumento da equidade? A remoção dos centavos aumentaria os preços, já que os varejistas arredondariam o preço dos tênis de US$ 29,99 para US$ 30? Duvido. Parece mais provável que eles arredondassem para baixo, para US$ 29,95.

Mas mesmo que eu esteja errado, mesmo que os varejistas arredondassem os preços de US$ 29,99 para US$ 30, a remoção do centavo não aumentaria os preços efetivos para os consumidores e provavelmente os reduziria. Para entender o porquê, precisamos analisar mais de perto a dinâmica de mercados altamente competitivos .

Na maioria dos setores em que as empresas precificam abaixo de um valor arredondado, a concorrência é acirrada. Exemplos incluem varejistas de roupas, supermercados e postos de gasolina. Nesses tipos de setores, os lucros econômicos a longo prazo estão próximos da taxa de retorno normal em outros setores competitivos semelhantes. Qualquer ação que aumente ou reduza custos é repassada aos consumidores. Talvez não imediatamente, mas certamente a longo prazo.

É um incômodo para os varejistas lidar com moedas pequenas. Retirá-las de circulação reduziria ligeiramente os custos de transação (embora, reconhecidamente, o efeito fosse mínimo). Mesmo que alguns produtos fossem arredondados de US$ 29,99 para US$ 30, em média, o nível de preços seria ligeiramente menor do que se as moedas de um centavo ainda estivessem em circulação, já que a economia de custos com a redução do manuseio de moedas volumosas acabaria sendo repassada aos consumidores.

Isso é semelhante a um argumento que apresentei em um post anterior , que mostrou que regulamentações que impedem a especulação de preços na verdade resultam em preços mais altos para os consumidores no longo prazo.