O presidente Petro poderia proibir completamente as exportações de carvão para Israel? Os avisos e perdas que a Colômbia enfrentaria

Embora o Ministério do Comércio, Indústria e Turismo tenha emitido um decreto proibindo as exportações de carvão para Israel em agosto do ano passado, as empresas continuaram a enviar certas quantidades graças às isenções incluídas na medida.
Essa situação causou grande indignação no presidente Gustavo Petro, tanto que ele acusou seus funcionários de "trapaça" e ordenou a proibição total das exportações de carvão para o país.
"O presidente emitiu um decreto proibindo a exportação de carvão para Israel; ele está sendo aplicado. E a armadilha não foi armada por Drummond ou pela Glencore (dona da Cerrejón), foi armada pelos meus funcionários gatopardistas", afirmou o presidente.
Segundo Drummond, essas exportações foram realizadas de acordo com a autorização concedida pelo Governo Nacional. Para tanto, a empresa apresentou a documentação necessária a uma comissão composta pelo Ministério do Comércio, Indústria e Turismo, a Agência Nacional de Mineração e o Dian (Instituto Nacional de Mineração), conforme exigido pelo Decreto 1.047 de 2024.
As exportações continuaram porque essa proibição não se aplica a "negócios jurídicos celebrados antes da entrada em vigor do Decreto, que gerem uma situação jurídica consolidada ou uma expectativa legítima".

Presidente Gustavo Petro Foto: Ovidio González - Presidência da República
Para o presidente Gustavo Petro, impor essa exceção constitui "cumplicidade" porque "62% do carvão que Israel usa para fazer as bombas que caem sobre Gaza vem da Colômbia".
Por isso, ele reiterou sua instrução para "remover imediatamente" essa exceção e "não exportar mais carvão para Israel". Caso contrário, ele ordenou que a Superintendência da Indústria e Comércio conduzisse as investigações apropriadas.
Mas a Associação Colombiana de Mineração (ACM) contradisse essas alegações, afirmando que o carvão colombiano que chega a Israel tem sido usado para gerar eletricidade para residências, hospitais e infraestrutura crítica ao redor do mundo, incluindo Israel e Gaza.
O carvão colombiano que chega a Israel tem sido usado para gerar eletricidade.
Além disso, no final de agosto do ano passado, este sindicato apresentou uma queixa contra este decreto ao Conselho de Estado, que foi aceita em dezembro. Esta queixa segue a apresentada pelo senador Miguel Uribe.
Como parte deste processo, e atendendo a um convite do Conselho de Estado, a Fenalcarbón apresentou uma série de elementos fáticos jurídicos e constitucionais que seriam violados por esta proibição.

Foto: Drummond Ltd.
A proposta de proibição do presidente Gustavo Petro gerou um debate jurídico no país e opiniões conflitantes. Por exemplo, o ex-ministro e reitor da Universidade EIA, José Manuel Restrepo, argumenta que o Governo Nacional tem autoridade para regular e controlar o comércio exterior.
Contudo, medidas restritivas somente poderão ser estabelecidas quando justificadas por razões de ordem pública, de relações internacionais, de segurança nacional ou de defesa dos interesses econômicos do país.
Portanto, o presidente Gustavo Petro poderia emitir decretos regulatórios restringindo exportações para Israel se fornecesse justificativa adequada e baseasse suas decisões na estrutura legal existente.
No entanto, o ex-ministro do Comércio Exterior Carlos Ronderos afirmou que essa proibição violaria o princípio de reciprocidade com o qual a Colômbia se comprometeu na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Além disso, como essas são empresas exportadoras privadas, ele diz que o Estado não pode dizer a quem vender carvão e a quem não.

Exportações de carvão da Drummond Ltd. Foto: Drummond Ltd.
O CEO da Fenalcarbón, Carlos Cante, também acredita que essa proibição é inviável porque há contratos assinados e situações legais estabelecidas.
Soma-se a isso o fato de que desde 2020 está em vigor um Acordo de Livre Comércio (ALC) entre a Colômbia e Israel, que garante uma série de salvaguardas para esse tipo de contrato , permitindo que as empresas continuem enviando carvão para o país.
"É uma medida arbitrária e discriminatória contra a indústria do carvão, pois ignora as regulamentações nacionais sobre comércio exterior e os tratados internacionais ratificados pela Colômbia", acrescentou a ACM.
Quando uma autoridade administrativa tenta influenciar diretamente contratos comerciais, a confiança é perdida.
Além disso, o presidente da Analdex, Javier Díaz, alertou que essa situação poderia levar a um processo contra o governo colombiano porque esses contratos assinados existem e não podem ser ignorados.
Haveria também implicações reputacionais em termos comerciais. "Quando uma autoridade administrativa tenta influenciar diretamente contratos comerciais, a confiança tanto de compradores quanto de fornecedores se perde ", comentou Carlos Cante.
Mas essa perda de confiança não se limita às exportações de carvão; ela afeta, em última análise, todas as exportações da Colômbia para o mundo, à medida que preocupações com a reputação começam a surgir.

Foto: Drummond Ltd.
Para o CEO da Fenalcarbón, o único perdedor com essa decisão é a Colômbia, porque os volumes que deixaram de ser exportados para Israel foram substituídos por carvão da Indonésia e da Austrália.
Enquanto isso, a Colômbia está perdendo moeda estrangeira, impostos e royalties, e está criando menos empregos.
Desde a implementação da proibição de exportação para Israel em agosto do ano passado, as vendas de carvão colombiano para aquele país diminuíram em mais de 50%.
Antes da medida, o fluxo mensal era em média de 250.000 toneladas, mas esse número caiu para 100.000 toneladas, evidenciando um impacto direto no setor. Além disso, não houve exportações para este país durante abril e maio de 2025.
Essa restrição se torna ainda mais significativa considerando que o impacto está concentrado nos departamentos de La Guajira e Cesar, onde o carvão representa 57% e 44% da economia, respectivamente.
Para cada milhão de toneladas que a Colômbia deixa de exportar, o governo colombiano perde cerca de 200 bilhões de pesos em impostos e royalties, de acordo com estimativas para 2023.
eltiempo