Governo federal enfrenta queixa de direitos humanos sobre sistema de compras indígenas

O governo federal está enfrentando uma queixa de direitos humanos sobre um programa multibilionário destinado a reservar trabalho governamental para empresas das Primeiras Nações, Métis e Inuit, segundo apurou o Global News.
O Conselho Tribal da Nação Anishinabeg Algonquin está apelando à Comissão Canadense de Direitos Humanos para que se pronuncie sobre o Diretório de Empresas Indígenas (IBD), uma lista de empresas supostamente de propriedade e operadas por indígenas.
O IBD é onde os departamentos e agências federais vão para encontrar empresas indígenas das quais comprar produtos e serviços, visando atender à política de Ottawa de que pelo menos cinco por cento de suas compras sejam destinadas a empresas das Primeiras Nações, Métis e Inuit.
A Global News, em parceria com a Universidade das Primeiras Nações do Canadá, revelou em agosto que Ottawa concedeu bilhões em obras federais a empresas sem sempre exigir que os licitantes comprovassem que eram das Primeiras Nações, Inuit ou Métis.
A queixa do conselho tribal, obtida pela Global News, alega que o Indigenous Services Canada — que supervisiona quais empresas são elegíveis para serem listadas no IBD — supervisionou um sistema "sistemicamente discriminatório" que permite que empresas não indígenas acessem esses contratos federais.

“Fraude de identidade indígena por 'fingidores' não é rara no Canadá”, diz a denúncia.
“Naturalmente, os fingidores são atraídos para tirar vantagem do (programa) e de seus contratos lucrativos, e (o governo) sabe disso.”
A Global News solicitou comentários do Serviço Indígena do Canadá na quarta-feira. O departamento não pôde responder às perguntas da Global até o prazo final.
O esforço para desenvolver negócios indígenas remonta à era Jean Chretien com a Estratégia de Aquisições para Negócios Indígenas, um programa que visava conceder às empresas das Primeiras Nações, Inuit e Métis acesso a contratos federais.
A ideia era usar o dinheiro dos contribuintes que o governo planejava gastar de qualquer maneira para conceder oportunidades às comunidades indígenas e, ao mesmo tempo, aumentar o acesso dessas empresas ao lucrativo mundo das compras federais.
Mantido pelos conservadores sob Stephen Harper, o projeto foi reforçado pelo governo liberal de Justin Trudeau, exigindo que departamentos e agências adquirissem pelo menos 5% do que precisavam de empresas lideradas por indígenas. O projeto agora vale cerca de US$ 1,6 bilhão anualmente.
Mas uma investigação da Global News, que durou meses, mostrou que a Indigenous Services Canada se baseava em um sistema de honra para que as empresas atestassem que eram, pelo menos, 51% de propriedade e controladas por indígenas. As regras de elegibilidade foram reforçadas em 2022, mas a investigação encontrou diversas empresas cujas raízes indígenas eram difíceis de identificar.
Após a reportagem da Global News, o Auditor Geral do Canadá abriu uma investigação sobre o PSIB em dezembro. O gabinete informou que os resultados seriam divulgados no outono de 2026.
“O que está claro é que (o Serviço Público e de Compras do Canadá) depende do (Serviço Indígena do Canadá) para verificar a elegibilidade indígena, mas o ISC faz esse trabalho de forma muito negligente, e é aí que a discriminação começa”, diz a denúncia.
“Porque quando o ISC deixa de exercer a devida diligência sobre quem é indígena e elegível para o IBD e quem não é, então a premissa central do (IBD) – que 'pessoas indígenas têm pelo menos 51 por cento de propriedade e controle' no negócio de contratação – torna-se sem sentido.”
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