Bitcoin ganha espaço: O que esperar?

Desde a eleição de Donald Trump, a bitcoin mostrou um crescimento considerável e há cada vez mais investidores nesta moeda digital. Os motivos são vários.
Ao Nascer do SOL, Paulo Monteiro Rosa, economista do Banco Carregosa, explica que essa valorização desde a tomada de posse de Trump pode explicar-se «por expectativas de menor regulação governamental, um ambiente de incerteza política e económica, e pela perceção da Bitcoin como alternativa ao sistema financeiro tradicional», acrescentando que «a retórica anti-establishment de Trump também poderá ter reforçado a atratividade da Bitcoin como ativo descentralizado». Além disso, diz que «movimentos especulativos associados ao sentimento do mercado de risk on, com máximos históricos consecutivos das empresas tecnológicas e dos índices acionistas, sobretudo do Nasdaq, podem ter contribuído para reforçar essa valorização».
Já Vítor Madeira, analista da XTB, refere que a valorização pode ser explicada «por um aumento da procura por este ativo digital» e que entre os principais fatores que justificam esse movimento, destacam-se: «o papel da Bitcoin como reserva de valor, a sua correlação inversa com o dólar (cuja desvalorização favorece ativos alternativos), a perceção de ativo de refúgio em contextos de incerteza, o interesse especulativo crescente, e as melhorias nas perspetivas de adoção e regulação» e que estes elementos «reforçam a atratividade da Bitcoin tanto para investidores individuais como institucionais».
Quantos milionários?
Segundo a Finbold, quase 16 mil detentores de Bitcoin juntaram-se ao clube dos milionários entre 20 de janeiro e 20 de julho deste ano, elevando o número total de milionários do Bitcoin para 192.205, mais 9% em seis meses e uma média de 88 novos milionários por dia.
Paulo Monteiro Rosa adianta ser possível ter uma estimativa aproximada do número de milionários em Bitcoin, com base nas carteiras que contêm o equivalente a um milhão de dólares ou mais mas que não é possível saber com exatidão quantos indivíduos são efetivamente milionários. No entanto, adianta, «entre os principais detentores públicos de Bitcoin estão algumas figuras bem conhecidas», dando como exemplo Satoshi Nakamoto, o criador anónimo da moeda, que «é associado a cerca de um milhão de bitcoins, que nunca foram movimentados». Segue-se Michael Saylor, fundador da MicroStrategy, que «declarou possuir pessoalmente cerca de 17.000 BTC». Ainda os gémeos Cameron e Tyler Winklevoss, fundadores da exchange Gemini, que terão acumulado mais de 100.000 BTC. Também Elon Musk, «embora de forma menos clara a título pessoal, está ligado à detenção de bitcoin, principalmente através da Tesla». A maioria, diz o economista, «permanece anónima».
Vítor Madeira adianta que, segundo dados da plataforma bitinfocharts, existem atualmente mais de 170 mil carteiras de Bitcoin com saldo superior a um milhão de dólares. Mas avisa: «Uma carteira não corresponde necessariamente a uma pessoa, já que um indivíduo pode deter várias carteiras, ou uma carteira pode pertencer a uma instituição com vários utilizadores».
O que esperar?
O nosso jornal tentou ainda perceber o que se pode esperar daqui para a frente ao nível da negociação da Bitcoin. Referindo que a moeda digital cota atualmente em máximos históricos à volta de 120 mil dólares, Paulo Monteiro Rosa é da opinião de que, apesar do otimismo «em torno do impulso que Donald Trump poderá dar à Bitcoin, e da crescente adoção institucional por parte de entidades como a BlackRock e a Fidelity, entre outros fatores positivos que têm alimentado o entusiasmo em torno do mercado, a valorização recente da BTC levanta também questões estruturais». E diz que a integração da Bitcoin no sistema financeiro tradicional «pode comprometer o seu objetivo original: a descentralização» e que a aprovação do GENIUS Act, a 17 de junho, «marca um ponto de viragem claro, ao enquadrar legalmente o ativo e sujeitá-lo a regulação estatal. Este momento pode representar o início de uma nova fase: mais reconhecimento, mas também mais controlo». E alerta que a privacidade na Bitcoin pode não ser garantida. «Apesar de as transações estarem registadas num ledger público e transparente, e os endereços associados a carteiras serem pseudónimos – não ligados diretamente ao nome do utilizador –, a realidade é que é tecnicamente e legalmente possível associar essas transações a identidades reais».
Assim, a Bitcoin entra «no trilema das criptomoedas: ao ganhar escala e aceitação institucional, sacrifica a descentralização e a liberdade».
Por sua vez, Vítor Madeira diz que as perspetivas «continuam favoráveis, sobretudo se persistir o apetite por ativos de risco como as ações». Além disso, a Bitcoin «tende a beneficiar de um dólar mais fraco, e, tal como o ouro, pode funcionar como proteção em cenários de incerteza geopolítica e comercial».
O analista adianta que, se a atual tendência de desvalorização do dólar se mantiver, «e se o ambiente macro continuar favorável ao investimento em ativos alternativos, é plausível que a Bitcoin alcance novos máximos».
Jornal Sol