Essas pessoas super-ricas estão deixando a Suíça para ir para a Itália

A notícia foi recebida filosoficamente e com uma boa dose de humor suíço pelo Le Matin , o jornal diário de Lausanne. "Os ricos são muito móveis, vêm e vão dependendo do seu humor", brincou o jornal francês. " Assim como outros vão da cozinha ao banheiro assobiando."

Os indivíduos ricos em questão são dois banqueiros, Renaud de Planta e Bertrand Demole, que, segundo um vazamento divulgado por quase toda a imprensa suíça francófona, decidiram recentemente fazer as malas e se estabelecer na Itália. Não para aproveitar o sol do Mediterrâneo, mas sim para aproveitar um regime tributário transalpino favorável, o imposto fixo.

Introduzido em 2017 pelo governo de centro-esquerda, o imposto fixo é um regime reservado a estrangeiros ricos. Ele "permite que aqueles que não foram residentes fiscais na Itália por pelo menos nove anos nos últimos dez obtenham, ao mudar sua residência para a Itália, a aplicação de um imposto anual fixo sobre toda a renda gerada no exterior", explica o diário econômico Il Sole-24 Ore . Assim, independentemente da renda da pessoa no exterior, as autoridades fiscais italianas exigirão "apenas" 200.000 euros por ano.

Uma medida que obteve grande sucesso, lamenta Bryan Lo Guidice, banqueiro suíço preocupado com o rebaixamento de seu país, nas colunas do Le Temps . "A Suíça, há muito vista como o paraíso supremo para a riqueza, ocupa apenas ^{o 4º lugar} no ranking de 2025 dos destinos mais populares para milionários", critica o empresário. "Essa observação já é preocupante. Mas o que é ainda mais preocupante é notar que a Itália está agora à nossa frente, ocupando o ^3º lugar neste ranking." Será que o infortúnio de alguns prejudicou o lucro de outros?

Desta vez, o ditado pode não ser válido, a julgar pelos diversos comentários da imprensa italiana, que não está nada feliz com o fato de a Itália ter se tornado um novo El Dorado para milionários. E não se trata apenas de uma questão ideológica, destaca o Il Sole-24 Ore.

“A Itália pode atrair riqueza, mas não há transparência sobre os benefícios que ela traz para a economia real”, acusa a mídia milanesa, baseando suas críticas em um relatório recente do Tribunal de Contas, que criticou o fato de “o Estado não exigir vínculo com investimentos produtivos e nem sequer mensurá-los”. Nessas condições, conclui o diário milanês, “o risco é incentivar a vinda de Tios Patinhas que apenas trazem sua residência para a Itália”.

De qualquer forma, ao assumir o governo, Giorgia Meloni dobrou o valor desse imposto fixo, que passou de 100.000 para 200.000 euros em 2023, provavelmente com o objetivo de aumentar a arrecadação. Segundo o Tribunal de Contas, esse aumento não deve desencorajar o influxo de milionários, que tem aumentado significativamente ao longo do tempo.

Pelo contrário, num contexto em que o Reino Unido alterou recentemente o seu regime fiscal , favorável aos milionários estrangeiros, o Tribunal de Contas prevê uma "migração fiscal" de Londres para a Itália. Isto, conclui o diário centrista Corriere della Sera – após denunciar o efeito deste regime no aumento das rendas em Milão – "corre o risco de transformar o nosso país num novo Mónaco".