Indústria relojoeira tenta ganhar tempo e espera alívio fiscal


A indústria relojoeira foi abalada pelas taxas alfandegárias de 39% impostas à Suíça pela Casa Branca em agosto.
Os relojoeiros suíços estão se apegando à esperança de uma redução nas taxas alfandegárias e atualmente estão contando com seus estoques nos Estados Unidos para absorver o choque, já que decisões difíceis os aguardam se as negociações com Washington fracassarem.
A indústria relojoeira foi devastada pelas tarifas de 39% impostas à Suíça pela Casa Branca em agosto. Para poder exibir o cobiçado selo "Made in Switzerland", os relojoeiros não têm escolha a não ser produzir no país alpino, o que representa um duro golpe para o setor, que empregou 65.000 pessoas no ano passado, de acordo com a organização patronal do setor.
Na quarta-feira, Johann Rupert, presidente da gigante de luxo Richemont, dona da joalheria Cartier e de marcas de relógios como Piaget, IWC e Jaeger-LeCoultre, disse que esperava uma solução negociada.
A marca Swatch tentou provocar ao lançar uma edição limitada que brinca com esse 39%, com um mostrador onde os números 3 e 9 são invertidos para formar 39, prometendo parar de vendê-lo "assim que os Estados Unidos modificarem suas taxas alfandegárias em relação à Suíça".
Na semana passada, o Ministro da Economia, Guy Parmelin, retornou a Washington para apresentar uma nova oferta e falou em discussões "construtivas", sem fornecer mais detalhes. E no domingo, Donald Trump assistiu à final do US Open de tênis do camarote da Rolex, gerando inúmeras perguntas na imprensa suíça sobre as discussões durante a partida com o chefe da principal marca de relógios suíços.
Em uma entrevista à CNBC na quinta-feira, o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, mencionou um acordo pendente com Taiwan, mas também "provavelmente" mencionou a Suíça, dizendo que as coisas "serão resolvidas com o tempo".
Os Estados Unidos são o maior mercado para os relojoeiros suíços, respondendo por quase 17% de suas exportações em 2024. Muitos, portanto, correram para aumentar seus estoques nos Estados Unidos antes da entrada em vigor das tarifas. Segundo a Federação Suíça de Relojoaria, suas exportações para os Estados Unidos aumentaram 149,2% em abril e 45% em julho. Mas, desde então, "ninguém está enviando nada para os Estados Unidos", observa Florent Perrichon, gerente geral da marca Laurent Ferrier, sediada em Genebra, que espera que a situação se prolongue "enquanto os estoques forem consumidos". "Todos esperam que, até lá, tenhamos uma boa surpresa", disse ele à AFP.
Se fracassar, "teremos outros problemas para enfrentar", reconhece Elie Bernheim, CEO da Raymond Weil. Mas, como "ainda é possível recuar, eu não gostaria de ter tomado decisões importantes sobre algo que poderia ser apenas temporário. Temos que esperar e colocar as coisas em perspectiva", explicou o chefe da empresa familiar à AFP. Assim como seus concorrentes, ele conta com seus estoques nos Estados Unidos para superar a tempestade, especificando que "nunca teve um estoque tão grande nos Estados Unidos".
Os relojoeiros estão "em modo de espera", observa Jon Cox, analista da Kepler Cheuvreux. Embora seja possível um alívio tarifário, ele afirma que é improvável que as tarifas suíças caiam para os 15% aplicados à União Europeia e ao Japão, o que significa que o setor continuará a enfrentar "uma desvantagem competitiva", alerta.
20 Minutes