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A mulher de César

A mulher de César

O ditado diz que à mulher de César não basta ser séria, tem igualmente que o parecer. O mesmo sucede com o atual Partido Socialista, a quem não chega ser sério, tem sobretudo que o conseguir parecer.

Os últimos dias têm trazido à tona a incongruência e falta de direção patente no núcleo do PS, existindo até quem, mirabolantemente, proclame que o PS não se encontra empatado com o Chega, uma vez que detém mais votos. Provavelmente são os mesmos que ignoraram este fator quando a PAF – coligação PSD/CDS – reuniu mais votos que o Partido Socialista em 2015. E, certamente, são aqueles que não hesitariam em votar em Ventura se este encabeçasse as listas socialistas.

Certo é que a hecatombe do passado 18 de maio, somente se mostrou surpreendente para estes, que vivem amarrados ao fanatismo e alheios à realidade e quotidiano dos portugueses. E, apesar de tal acontecimento servir bom mote para as urgentes e estruturais mudanças que se exigem no largo do rato, as figuras de proa partidária pouco ou nada retiraram do resultado eleitoral, tornado Pedro Nuno num bode expiatório, como se fosse exclusivo responsável da derrota.

Não é minha intenção defender a atuação política de Pedro Nuno. Aliás, possuí três oportunidades para votar no referido (eleições internas contra José Luís Carneiro, legislativas 2024 e legislativas 2025) e em nenhuma ocasião o fiz. Contudo, creio que o comportamento da estrutura não só é injusto com o demissionário líder, como principalmente prejudica severamente o partido, retirando-lhe a capacidade de amplo diagnóstico e provocando um atraso e défice combate aos problemas do partido.

Neste momento o PS necessita de:

1.Pôr término aos Césares – parecer sério. Os quadros mais antigos do PS tornam o partido um alvo demasiado fácil da direita que tantos votos lhe roubou. Carlos César – Presidente do Partido – chegou a ser notícia no país vizinho pela quantidade de familiares ligados à estrutura socialista e a cargos públicos, sendo tal circunstância alvo de chacota, e argumento publicamente validado de toda a oposição.

Continuar a fomentar esta imagem de dependência do Estado, de nepotismo – conceito com estreita conexão à corrupção – faz com que o Partido limite a veracidade dos seus argumentos e estratégias.

Problema maior é que no núcleo de um partido abrangente como é o Partido Socialista existem muitas famílias como a de César que não trazem qualquer valia ao partido e apenas afastam o eleitorado que está cansado destas elites e destes favorecimentos.

Prata Roque não é melhor candidato que José Luís Carneiro, mas as palavras proferidas há dias na SIC Notícias revestem-se de alguma pertinência: os comportamentos elitistas vincados no Partido Socialista levam os potenciais quadros e, principalmente, os eleitores a afastar-se do PS.

2. Camuflar os subalternos de Costa. A governação de António Costa tem mais responsabilidade nos presentes resultados que o agora dispensável Pedro Nuno Santos.

José Luís Carneiro encontra-se inegavelmente conectado com o governo do antigo primeiro ministro e prevêem-se os ataques da direita à atuação do antigo MAI, no entanto este reúne simpatia bastante junto da generalidade do eleitorado para, com clareza e sem entrar nos jogos dos adversários, se superiorizar a estes entraves.

Excluindo o mencionado – e talvez Duarte Cordeiro – raros são os subalternos de Costa que possuem capacidade para ir a votos e lograr uma vitória, seja em que contexto for (interno, legislativo, autárquico e presidencial).

Mariana Vieira da Silva – a quem também serve a carapuça do Cesarismo –, Fernando Medina, Alexandra Leitão e Ana Catarina Mendes, são exemplos de quadros que nos bastidores do partido até se podem munir de alguma importância, porém, em nome dos bons resultados do PS, devem ficar bem distantes de serem alternativa aos portugueses.

3.Apontar às autárquicas. Ao dia de hoje é difícil apontar os socialistas como vencedores das eleições autárquicas, sendo que o atenuar do dano que se perspetiva passa por vencer as câmaras com maior expressão do país.

Lisboa encontra-se perdida. O Porto para lá caminha, embora ainda exista uma réstia de esperança. Cabe assim a José Luís Carneiro, com a sensatez que lhe é reconhecida, intervir diretamente na escolha das remanescestes 16 capitais de distrito.

Um bom resultado autárquico nas capitais de distrito facilitará as boas escolhas a fazer nas próximas legislativas e promove uma mais abrangente aproximação do PS ao eleitorado.

4.Esquecer as presidenciais. Embora não se perceba o motivo, parece que as presidenciais se verificam destinadas ao Sr. Almirante Gouveia e Melo.

Ainda que se logre um bom resultado em setembro/outubro, o hiato entre as autárquicas e as presidenciais é curto para que se possa transportar matéria significativamente positiva no combate ao predestinado vencedor.

Perante as atuais circunstâncias, apoiar um candidato – se existir algum voluntário – será colocar no curriculum do PS mais um sufrágio expressivamente perdido, razão pela qual a melhor solução passa pela não participação no ato de forma ativa.

5.Procurar o voto jovem. A sociedade portuguesa ainda é, para benefício de PS e PSD, muito fechada politicamente. Entre a faixa etária idosa, ainda existem muitos eleitores que durante toda a vida, numa demonstração de cega lealdade, votam no partido socialista independentemente de quem se apresenta como candidato.

Esta amostra populacional – por força da condição humana – tende a reduzir-se drasticamente, o que provocará o mesmo efeito nos votos socialistas.

Ora, se deixar de existir quem religiosamente vote no PS, mostra-se urgente desvendar novos mecanismos para cativar o voto dos mais jovens e garantir a continuidade e os bons resultados do partido.

Perante tudo quanto vai exposto, para além de uma profunda reflexão e reviravolta, o partido socialista – em honra da sua manutenção de condição de grande partido – necessita de ponderar bem os momentos em que tem de se recatar e aqueles em que exaltar atitude, precisando sempre de ser e, sobretudo, parecer sério.

observador

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