Cristóvão Norte avança com candidatura à Câmara para levar Faro a um «novo patamar»

Sob o lema «Alma Farense» e perante mais de meio milhar de apoiantes ao final da tarda de ontem, o social-democrata protagonizou uma sessão entusiasta, ladeado por José Macário Correia, histórico do partido, que será cabeça-de-lista à Assembleia Municipal de Faro.
«Esta campanha foi, no seu início, assolada por uma vaga de calor. Dada a vossa resistência, militância e entusiasmo, esta é a campanha mais quente de Portugal», começou por introduzir no discurso.
Norte classificou este momento como «o ato mais solene e de maior responsabilidade política» da sua carreira, sem esquecer o simbolismo de o fazer no largo com o nome do pai, que lhe legou «a palavra, o compromisso, a seriedade, a tolerância, o respeito por todos e a vontade de servir os demais».
Se dúvidas houvesse e apesar de ter sido reeleito deputado nas legislativas de 18 de maio, Cristóvão Norte assegurou que a experiência como parlamentar será útil na gestão autárquica que pretende assumir.
«Quando vencermos esta eleição, a Assembleia da República será apenas uma página do meu passado que assumo com orgulho, que me deu o privilégio de ser porta-voz da minha terra, da minha região, defensor do meu país. E não será inútil. É uma experiência, um conhecimento que será usado para que, das ilhas às freguesias, dos bairros às aldeias, possamos dar a todos que escolheram Faro para realizar o seu projeto de vida, a confiança de que quem os representa está preparado, é competente e não tem no seu espírito qualquer outra consideração que não seja o interesse de Faro», afirmou.
Às perguntas dos jornalistas, explicou que não pretende exercer um mandato convencional.
«Não me proponho a ser mais um presidente. A minha ambição é maior, é levar Faro a um novo patamar. Este não será um projeto de quatro anos, mas uma ambição maior. Aliás, não tomaria uma decisão desta natureza, se o propósito fosse ser um presidente como os outros».
Um dos objetivos é «desde logo, tratar de um problema, o subfinanciamento crónico da autarquia. No Algarve, Faro tem um dos níveis mais reduzidos de investimento por habitante. Isso resulta da Lei das Finanças Locais. Não a podemos alterar, mas podemos maximizar a receita e procurar assegurar que infraestruturas que causam sobrecarga ao nosso território tenham de assumir os encargos resultantes de um imperativo de responsabilidade social que lhes cabe».
O candidato referiu-se ao Aeroporto Gago Coutinho, atualmente concessionado à multinacional Vinci Airports, e à «sobrecarga dramática» que representa para a freguesia de Montenegro.
«Nos espaços envolventes, produz uma desmesurada sobrecarga com impactos no ambiente, estacionamentos e vias adjacentes. Importa assegurar que essa entidade assuma as suas responsabilidades sociais e contribua para a valorização do território».
Para isso, «o município abrirá um processo negocial com entidades cujo impacto territorial que município tem dificuldade em responder», anunciou.
Em termos políticos, Norte respondeu aos jornalistas que esta candidatura não se fecha no PSD e não tem «amarras políticas».
«É um projeto feito com as pessoas de Faro. Temos representantes das mais importantes instituições e centenas de pessoas que não têm, nem tiveram qualquer intervenção no espaço político ou partidário ao longo de décadas».
«Estaremos disponíveis, perante todas as forças que o desejarem, conquanto o seu conteúdo político seja conciliável com a nossa ambição, para os acolher. E, portanto, estamos de braços abertos e estamos a sentir que há muita, muita gente que nos quer abraçar», esclareceu.
Desporto: mais pavilhões e campos, rumo a uma cidade desportivaAinda no uso da palavra, Norte reconheceu que «Faro tem um parque desportivo que não é consentâneo com as suas necessidades. Precisamos de mais campos e pavilhões. Precisamos, a prazo, de ter uma cidade desportiva à imagem da Cidade Universitária de Lisboa e de outros complexos desportivos em cidades que, nesta matéria, estão muito mais à frente».
Entretanto, «porque isto não se faz de um dia para o outro, é preciso encontrar terrenos disponíveis e construir campos e pavilhões. Começando, desde logo, pelo futebol, mas não só. Não é aceitável que se imponham aos nossos jovens a prática desportiva sem condições de segurança e equipamentos adequados».
Urbanismo: calçadas novas e isenção de parquímetros para idososNorte ambiciona que «Faro seja uma capital na verdadeira acessão da palavra. Uma capital que se distinga, que se afirme pela qualificação do espaço público» e por isso promete avançar com «um programa que, com urgência, resolva as situações mais críticas, como as calçadas, a limpeza urbana» devolvendo «a dignidade e a possibilidade de fruição» a todos os cidadãos.
«Queremos que as pessoas se sintam bem quando saem de casa. Olhem em redor e não se se afligem com o buraco, o lixo, a erva daninha, a passadeira por pintar. A vida das pessoas é difícil. A nossa missão é torná-la mais fácil e garantir que o seu dia-a-dia se faz num ambiente positivo, em que o espaço está arranjado, cuidado, tratado», prometeu.
Que seja «motivo de orgulho e não de insatisfação. Substituiremos o piso das calçadas nas zonas mais icónicas, por um piso que respeita as pessoas com mobilidade reduzida e dificuldades de locomoção. Salvaguarda as crianças e os mais idosos e previne acidentes que tantas vezes têm consequências dramáticas. Vamos isentar os mais idosos e aqueles que têm dificuldades do pagamento de parquímetros para que isso não seja um estorvo e uma barreira à sua liberdade. O objetivo é fazer Faro plano».
Apesar de o concelho vizinho assumir a capitalidade da Ria Formosa, o candidato do PSD reclama que Faro «se reconheça na sua relação íntima e identitária com a Ria Formosa».
«Uma Ria Formosa que não é paisagem, mas vivência, contacto, riqueza, oportunidade. Uma Ria Formosa que faz parte de nós, que entra por aqui adentro e que ajuda a Faro a ser uma verdadeira capital do Sul, a projetar-se economicamente e a ser mais vibrante do ponto de vista social e cultural».
Saúde: médico de família para todos até ao fim do mandatoTambém a saúde não ficou esquecida no discurso. Nesta matéria, jogou um trunfo forte, recorrendo à experiência na Assembleia da República.
«O governo estabeleceu que o Algarve vai beneficiar cinco Unidades de Saúde Familiar (USF) Tipo C e mais duas a cargo da ULS. O objetivo é aumentar a cobertura de médicos de família. Em Faro temos 7 mil pessoas sem médico de família», contabilizou.
Em contactos recentes com a tutela, pediu «para que se instale uma destas USF tipo C em Faro. Tenho esse compromisso. Mas se por alguma razão não vier a ser essa a decisão, o município, pelos seus próprios meios, avançará com uma candidatura em parceria com uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), com a finalidade de assegurar que todos os farenses, no fim do próximo mandato, possam dispor de médico de família».
«E podem dizer que a voz se fez sentir em Lisboa, mas em relação ao novo Hospital Central do Algarve, a voz nunca se calará em Faro», garantiu.
Educação: mais auxiliares nas escolas e apoio à diversidadeOutro problema que Cristóvão Norte se propõe a resolver é o desafio que as escolas se deparam hoje.
«Os fluxos migratórios têm conduzido a um aumento significativo de alunos estrangeiros. Propus que o governo estabeleça uma majoração na colocação de professores, em razão do esforço adicional que se impõe aos mesmos por causa desta situação».
E explicou: «uma turma com 15 nacionalidades não pode ter um professor que dá aulas a 30 alunos. É preciso encontrar respostas para garantir a integração desses alunos estrangeiros, mas também, e em todo momento, não prejudicar a aprendizagem e a igualdade de oportunidades dos alunos nacionais. Por isso, o município, naquilo que lhe diz respeito, dará o exemplo».
A promessa é de «recrutar mais de 25% de pessoal auxiliar por cada escola em que se verifique que esta matéria compromete o funcionamento da mesma e a igualdade de oportunidades para todos».
A par disso, e «porque a escola é uma ferramenta indispensável para a integração de cidadãos de outros países, o município fará também a contratação dos profissionais necessários para essa evolução integrada. E diligenciará para que haja total cobertura, mais uma vez por uma imposição moral, para alunos que registem necessidades especiais».
Habitação: 500 fogos distribuídos por vários zonasPor todo o país, «com particular incidência no Algarve, o acesso à habitação estava dado a largas franjas da população», reconheceu o candidato social-democrata à Câmara Municipal de Faro
«É preciso uma intervenção mais forte e decisiva. Nesse sentido, entre custos controlados e habitação social, temos desde já assegurada a possibilidade de lançar empreitadas de construção de 500 fogos, que serão disseminados por lotes diversos, nos Braciais, no Vale da Amoreira, na Lejana e na Penha».
São «locais adequados para o efeito e ali serão desenvolvidas ações com vista à promoção de infraestruturas e construção de diferentes tipologias habitacionais, com soluções inovadoras e, eventualmente, modelares, as quais permitem uma maior rapidez de construção e a mais baixos custos», explicou.
Estas operações, «nunca dispensarão as boas práticas ambientais nem um urbanismo sustentável que se distingue pela inclusão de áreas verdes de fruição pública e de equipamentos que sirvam toda a comunidade».
Por outro lado, e em termos macrorregionais, Norte quer «rever os termos da distribuição regional da taxa turística, a qual, nos moldes em que está afirmada, é assimétrica, é injusta, é penalizadora dos territórios menos desenvolvidos».
«Serve para prejudicar a coesão da região e não para a fortalecer. A coesão territorial só se consegue através da correta adequação das receitas para responder a matérias de carácter regional. Tem de haver uma visão global e não meramente municipal», referiu.
Mobilidade: ligação ao Aeroporto, à UAlg e a EspanhaA prazo, e este tem sido uma temática na agenda do trabalho parlamentar recente de Cristóvão Norte, «Faro tem de ampliar a sua área urbana, melhor articular a sua rede de transportes e assegurar a ligação ao Aeroporto e à Universidade do Algarve, a Lisboa e a Espanha, à Andaluzia, a Sevilha, a Huelva».
«Temos de abrir novas oportunidades, criar condições para sermos mais atrativos e não podemos nem ser uma ilha rodoviária, nem ferroviária, nem uma ilha de conhecimento. Temos de nos relacionar com muitos milhões que estão aqui ao lado para fazer de Faro a grande capital do Sul, a capital que deve ser, que dá o melhor, lidera, inspira e conquista. Queremos proximidade com os conselhos de vizinhos e deles connosco».
«Tenho a ambição, com José Macário Correia e aqueles que nos vão acompanhar, de construir uma cidade e um concelho que seja atrativo, que tenha qualidade de vida, que tenha boa mobilidade, que cresça e que, no fim de contas, esteja à altura de uma grande capital regional, que se afirma, do ponto de vista interno, nas boas decisões para os cidadãos, mas também surge como uma força motriz para o Algarve, beneficiando todos», concluiu.
Na assistência estiveram presentes militantes, simpatizantes, autarcas e candidatos social-democratas, além de Rogério Bacalhau, que está prestes a finalizar três mandatos à frente da Câmara Municipal de Faro, acompanhado por membros do seu executivo. Maria da Graça Carvalho, cabeça de lista do PSD por Faro nas legislativas.
Oposição e histórico eleitoralCristóvão Norte tem já como adversário conhecido nas próximas eleições para a Câmara de Faro o socialista António Miguel Pina, presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), que conclui o seu terceiro mandato à frente da autarquia vizinha de Olhão e, como tal, não se pode recandidatar nesse concelho, devido à lei de limitação de mandatos.
Outro candidato à autarquia da capital algarvia é o advogado Duarte Baltazar pela coligação formada pelo PCP e pelo PEV.
Nas últimas eleições autárquicas para a Câmara Municipal de Faro, em 2021, a coligação liderada pelo PSD venceu, com 47,76% dos votos, elegendo seis dos nove vereadores em disputa, enquanto o PS ficou na segunda posição, com 30,58 %, garantindo os restantes três eleitos.
A coligação PCP-PEV em terceiro lugar, com 6,48% dos votos, e o Chega em quarto, com 5,13%, não conseguiram eleger qualquer vereador.
O concelho de Faro tem 67.566 habitantes (2021) e uma superfície de 201,2 quilómetros quadrados (km2).
O território está dividido em quatro freguesias: União de Freguesias de Faro, Montenegro, União de Freguesias de Conceição e Estoi, e Santa Bárbara de Nexe.
Faro é limitado a norte pelo de São Brás de Alportel, a leste por Olhão, a oeste por Loulé e a sul com a Ria Formosa e o oceano Atlântico.
Barlavento